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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Educação Infantil


EDUCAÇÃO INFANTIL [1] - A CRIANÇA DE 0 a 6 ANOS
By Vera Maria


Nos últimos anos, através de inúmeras pesquisas das chamadas neurociências , aprendemos muito sobre o desenvolvimento do cérebro da criança desde a gestação até os seis anos de vida. Esses conhecimentos nos leva a considerar que o cuidado (físico e emocional) e a educação são aspectos de um processo global determinante na formação da personalidade da criança pequena. Nesse contexto o papel da família, escola e sociedade em que ela se desenvolve é determinante e fundamental. De acordo com as neurociências, o cérebro da criança no período de 0 a 6 é dotado de uma plasticidade fenomenal. É a fase em que o cérebro processa o amadurecimento neuronal e absorve com maior facilidade grande número de informações quais sejam: auditivas, visuais, cinestésicas, perceptivas, etc. e, consegue estabelecer conexões entre as células nervosas numa velocidade excepcional, se compararmos com um cérebro adulto.
A partir do nascimento são ativadas determinadas áreas do cérebro, de forma que, no terceiro ano de vida, a sua configuração está muito próxima ao cérebro adulto com relação às várias partes ativas. A intensa atividade que se verifica nos primeiros dois anos de vida permite que a criança desenvolva a noção de si mesma como um corpo diferenciado no espaço e como um indivíduo autônomo, separado dos outros. Caminha, assim, na formação de sua identidade e de sua personalidade. Nesse período, ela também apresenta um grande crescimento físico e realiza a herança da espécie: põe-se de pé e começa a andar. Uma grande aquisição da criança nesse período é, sem sombra de dúvida, a linguagem, que pode ser realizada por meio da fala ou da libras (linguagem de sinais). O desenvolvimento da oralidade, acompanhado pelo enriquecimento do vocabulário, fará da criança pequena um ser comunicativo em potencial.
Aquisição da linguagem traz à criança a possibilidade de ter uma participação maior no mundo cultural. Acrescentada aos outros sistemas de comunicação, ela cria um campo comum de comunicação entre o adulto e a criança. Ao final de seu terceiro ano de vida, com o domínio do corpo, com a autonomia na locomoção e com as bases da fala formadas, a criança inicia um período em que a preocupação principal é a de absorver o mundo. Há, nesse momento, um componente biológico muito forte: no cérebro de uma criança circulam o dobro de glicose e de sinapses se comparado ao de um adulto. Biologicamente ela está “pronta e disponível” para aprender muito e para se expressar de várias formas. A criança, em seu quarto ano de vida e nos dois a três anos que se seguem, realizará tarefas bem complexas, como desenvolver e ampliar a função simbólica. Essa relação com o meio será estabelecida, por sua vez, pelas possibilidades determinadas pelo desenvolvimento biológico. Essa transformação amplamente pesquisada por Vygostsky e seus colaboradores como Luria, e Leontiev, na Rússia pós- revolução. Vygostky, preconiza então, os pilares do desenvolvimento humano quando afirma que: ...
“... as funções psicológicas têm um suporte biológico pois são produtos da atividade cerebral; O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sócias entre o indivíduo e o mundo exterior, as quais desenvolvem-se num processo histórico e, a relação homem-mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos...” (Oliveira, 1999, pg.23)
Uma descoberta importante das Neurociências é que várias atividades da vida cotidiana, como brincar ou ouvir música, têm um profundo sentido educativo. Elas levam ao desenvolvimento de “redes neuronais” de grande resiliência, que poderão ser acionadas em aprendizagens posteriores, inclusive as escolares. A experiência musical tem comprovada importância no aprendizado na área de matemática, por exemplo.
Atualmente sabemos que a criança tem um desenvolvimento integrado. O desenvolvimento físico está intimamente relacionado ao psicológico e ao cultural. Na perspectiva de Wallon , os órgãos do movimento: a musculatura e as estruturas cerebrais responsáveis pela sua organização possuem duas funções na atividade muscular: a cinética, ou clônica e a postural, ou tônica. A primeira responde pelo movimento visível, pela mudança de posição do corpo ou de segmentos do corpo no espaço, a segunda responde pela manutenção da posição assumida (atitude) e pela mímica. A primeira é a atividade de músculo em movimento e a segunda , a do músculo parado, ( Taille, 1992). Assim, para Wallon o ato mental se desenvolve a partir do ato motor. Isso quer dizer que a criança já é uma pessoa com personalidade própria que se torna membro de um grupo com base nas experiências que tem em seu meio.
Assim o homem transforma-se de biológico em sócio-histórico num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana. Nessa concepção, Vygotsky evidencia a importância da mediação como determinante para o desenvolvimento e funcionamento cognitivo- psicológico. Para esse estudioso, a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada, pelos sistemas simbólicos. Daí a concepção de homem como “um ser sócio-histórico” uma vez que tais símbolos começam na família e perpassa por todo período em que esse ser estará em convívio com a sociedade.
Daí o significado da escola na vida do indivíduo: ampliar e apresentar novas formas de atividade, de pesquisa e de descoberta que não são oferecidas de forma direta pela vivência na família e na comunidade.
Promover o desenvolvimento da imaginação na criança deve ser o principal papel da escola atual. É na infância que o ser humano está mais propício a absorção de inúmeras habilidades cognitivas de modo espetacular e veloz. A imaginação é uma dessas habilidades fundamental para a vida futura. É através da imaginação que a criança receberá o suporte cognitivo-emocional, para enfrentar os problemas do dia-a-dia, resolver conflitos, superar situações difíceis ou dolorosas; para criar novas situações, elaborar novas formas de trabalho, organizar a vida familiar e as ações comunitárias, aprender os conteúdos que são ensinados na escola.
Durante muito tempo a educação infantil privilegiou o desenvolvimento cognitivo em detrimento das atividades em qualquer domínio das artes que envolvessem a imaginação, e quando isso era tentado por alguns professores idealistas e inovadores, eram, imediatamente criticados, questionados e, em muitos casos proibidos de tais ações. Entendia-se que a criança assimila melhor através de uma pedagogia rígida, isolada, silenciosa e séria. Qualquer atividade fora dessas bases era motivo de críticas tanto por parte dos familiares da criança como por seus pares e dirigentes de escolas. Nesse sentido, deve-se ao grande pesquisador suíço Jean Piaget que também revolucionou a educação, quando propôs a teoria epistemológica do conhecimento ressignificando o sentido do homem como ser social. Segundo Piaget:
“...o homem normal não é social da mesma maneira aos seis meses ou as vinte anos de idade e, por conseguinte, sua individualidade não pode ser da mesma qualidade nesses dois diferentes níveis”.....de acordo com esse psicólogo, ...”a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas” (in: Taille,1992)
Atualmente sabe-se que toda e qualquer atividade que promova a imaginação da criança são essenciais no desenvolvimento e interação com as demais Ciências. A imaginação é mola propulsora do desenvolvimento da cultura e do conhecimento humano em todas as esferas. Por esse motivo, deve-se aproveitar a Educação Infantil para desenvolver atividades curriculares que favoreçam a imaginação da criança e, culturalmente, façam parte da infância , como brincadeiras, cantigas, poesias, histórias , incluindo a prática de atividades criativas, tanto em Arte como em Ciências. Com todas as novas concepções de aprendizagem e, o crescimento vertiginoso das tecnologias, a escola assume mais uma grande responsabilidade no sentido de promover o desenvolvimento global das crianças desde a mais tenra idade. Aprender deve ser sim uma grande brincadeira. Não basta mais a intenção de colocar as teorias de Vygotsky, Piaget e outros tantos estudiosos em nossos planos e projetos educacionais.
Sabe-se que o processo de aprender pressupõe uma mobilização cognitiva desencadeada por um interesse, por uma necessidade de saber. Essas características divergem em cada ser humano. O respeito às essas diferenças envolvem conhecimentos profundos por tarde do educador que atuará com essas crianças já no processo da educação infantil. Assim acredita-se que formar um profissional com tais competências e habilidades deve ser o grande desafio das Universidades. Não há mais como, nem porque, negligenciar tantas descobertas acerca de “como aprendemos” , “como funciona” as estruturas neuronais. Não há como negligenciar a importância da interação social, da promoção de ambientes escolares que propiciem o desenvolvimento da imaginação da criança, das metodologias provocativas que proporcionem aprendizagens significativas, respeitando-se seus interesses e habilidades enquanto seres globais. O educador que estiver preocupado e bem informado sobre tais aspectos do desenvolvimento humano poderá vir a aumentar consideravelmente as chances de vir a produzir seres humanos autônomos, criativos e pleno de capacidades e habilidades.

Bibliografia
1. TAILLE, Yves de La, Piaget, Vygotsky e Wallon, teorias psicogenéticas em discussão, Summus editorial, S.P. 1992;
2. OLIVEIRA, Marta Kohl, Vygotsky, aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico, Scipione, S.P. 1999
3. COOL,César, et alii, O Construtivismo na sala de aula, Ática, S.P.,2004





[1] Texto produzido para compor um projeto de pesquisa acadêmica – Curso de Pedagogia para séries iniciais- Uniceub