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sábado, 13 de março de 2021

 

O cérebro reativo: quando antecipar tudo traz sofrimento

 Os estados de ansiedade são, frequentemente, o resultado de uma mente que só enxerga problemas e não sabe como agir diante deles. Por trás desse olhar costuma haver um cérebro com uma abordagem reativa que apresenta, além de tudo, características singulares.

O cérebro reativo orquestra, facilita e ativa os mecanismos de ansiedade. Essa forma de pensar e de processar a informação funciona nos colocando em alerta ao antecipar riscos que muitas vezees nem existem. Da mesma forma, esse tipo de abordagem faz com que nossas emoções se sobrecarreguem, reduzindo nossa iniciativa e fazendo com que sejamos mais impulsivos e menos reflexivos.

Viktor Frankl observou, com grande sabedoria, que quando não podemos mudar uma situação que nos causa dor ou desconforto, podemos variar nossa atitude em relação a esse problema para reduzir o sofrimento. Esse tipo de estratégia e engenharia mental não poderia ser executado por alguém com um cérebro reativo. Porque essa capacidade de variar a forma como a realidade é encarada é mais típica de alguém proativo.

Assim, apesar deste último termo (a proatividade) ter se relacionado nos últimos tempos com o campo das empresas, da liderança e da psicologia profissional, na realidade estamos diante de um conceito que emana saúde e equilíbrio psicológico. O positivo de tudo isso é que cada um de nós tem a capacidade de passar da reatividade para a proatividade para lidar com as adversidades com eficiência.

Vamos analisar isso a seguir.


Como funciona o cérebro reativo?

O cérebro reativo está relacionado a um tipo muito particular de processamento cognitivo. É aquele que vê as mudanças como ameaças e que responde aos estímulos se antecipando da pior maneira: com angústia ou de forma impulsiva. Os neurocientistas passaram anos tentando entender as bases neurológicas da ansiedade e também o que já conhecemos como a mente hiper-reativa.

Estudos, como os realizados em 2018 pelo Dr. Alexander Olsen, professor do departamento de psicologia da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, revelam dados interessantes que vale a pena conhecer.

Pensar de forma proativa e hiper-reativa: qual é a diferença?

O cérebro humano pode processar a informação, raciocinar e impulsionar o comportamento partindo de mecanismos básicos: a proatividade e a hiper-reatividade. Vejamos a diferença a seguir:

  • O sistema proativo parte da inteligência fluida. Este tipo de raciocínio é o resultado da nossa capacidade de resolver os problemas ao usar a lógica e identificar padrões, pensando de uma forma mais reflexiva;
  • Em compensação, o sistema reativo do cérebro é mais impulsivo e precisa responder rapidamente aos estímulos ambientais. Ele faz isso dessa forma porque, muitas vezes, parte do medo, daquele sistema de alarme que ativa a amígdala e nos convida a reagir antes de pensar.

As pessoas usam ambas as formas de pensamento. O sistema reativo é útil para nós porque podemos agir diante dos riscos e das ameaças do ambiente. A abordagem proativa, por sua vez, nos permite tomar melhores decisões e lidar com o estresse cotidiano com mais eficiência.

Entretanto, o problema surge quando nos limitamos a utilizar essa primeira abordagem, quando o cérebro reativo orquestra quase toda situação. É aí, então, que derivamos em um estado constante de ansiedade.

O cérebro reativo e a matéria branca

A equipe do Dr. Alexander Olsen realizou seu estudo em colaboração com a Universidade do Sul da Califórnia, no Instituto Stevens de Neuroimagem e Informática. O objetivo era ver quais mecanismos promovem e dão forma ao cérebro reativo. O que pôde ser visto através de ressonâncias magnéticas é que pensar de forma fluida e proativa ativa a substância branca.

Em contraste, aquelas pessoas que raciocinavam de forma reativa apresentavam uma menor densidade na substância branca do cérebro. Devemos nos lembrar de que essa área é formada por uma ampla e complexa rede de axônios mielinizados, essenciais nas comunicações cerebrais. Além disso, é a chave para a conexão entre os hemisférios esquerdo e direito.

Essencialmente, quando alguém se acostuma a responder ao seu entorno de forma reativa, entra em um estado constante de hipervigilância. Essa pessoa só percebe ameaças, antecipa mais problemas e deriva em estados de estresse. Essas situações têm um grande impacto para o cérebro, e o alteram a ponto de desorganizar a rede que compõe a substância branca.


Como passar da reatividade para a proatividade?

O cérebro reativo não pode ser desligado, assim como não podemos eliminar completamente o raciocínio reativo das nossas mentes. Essa forma de processar o mundo às vezes é útil e necessária para nós, seja quando há ameaças ou quando há perigos em nosso ambiente.

Entretanto, o ideal é que a reatividade seja ativada em ocasiões muito pontuais. Além dessas situações, é a mentalidade proativa que mediará o nosso bem-estar ao reduzir os estados de ansiedade. Como desenvolvê-la ou ativá-la com mais intensidade?

Estas são algumas estratégias:

  • Edward de Bono definiu o pensamento proativo como aquele mecanismo pelo qual a pessoa se limita a deixar as coisas acontecerem. Trata-se de nos tornarmos agentes ativos da nossa realidade;
  • A gestão emocional e o controle dos impulsos é algo essencial e necessário em todos os casos;
  • Devemos desenvolver uma mentalidade mais reflexiva, mais aberta a novas perspectivas. A rigidez mental sempre deriva em reatividade e medo;
  • O pensamento também determina nossa atitude e o modo como enfrentamos as coisas. Ser positivo, mas ao mesmo tempo realista, ser intuitivo, mas ao mesmo tempo lógico, define uma abordagem eficiente;
  • Também é necessário saber tolerar a frustração e confiar em si mesmo. Por pior que as coisas estejam, todos nós possuímos recursos para traçar planejamentos e agir;
  • O exercício aeróbico também pode facilitar a oxigenação e a nutrição dessa área tão importante do cérebro.

Para concluir, é muito fácil cair na prisão de um cérebro reativo que só antecipa perigos e ameaças. O fato de que isso aconteça está dentro do provável. Porém, o decisivo é saber traçar planos: se algo nos preocupa, vamos desenhar um plano para enfrentar esse desafio. Fazer isso nos tornará pessoas mais proativas.

Fonte:www.cicloceap.com.br

sexta-feira, 5 de março de 2021

 

Como tratar as obsessões puras?

 

 

Neste artigo apresentaremos o tratamento psicológico mais amplamente aceito para os transtornos obsessivos sem compulsões, ou “TOC puro”.

Como tratar as obsessões puras? O transtorno obsessivo compulsivo é uma categoria diagnóstica reservada para os casos em que o paciente manifesta obsessões e compulsões. Em alguns casos menos prevalentes, esses pacientes podem vir para a consulta com sintomas baseados apenas em obsessões.

É o que se conhece como TOC puro ou obsessões purasAs obsessões podem ser definidas como pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes, que são vivenciados em algum momento durante o transtorno como intrusivos ou indesejados, e que na maioria dos indivíduos causam ansiedade ou desconforto significativo.

A pessoa que sofre de obsessões, devido ao intenso desconforto que elas geram, procura por todos os meios ignorar ou suprimir esses pensamentos, impulsos e imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ato, isto é, realizando uma compulsão.

As compulsões geralmente trazem um alívio de curto prazo. A ansiedade e a tensão sentidas por causa das obsessões são reforçadas negativamente pelo comportamento compulsivo.

Essa compulsão faz com que o problema persista e acabe se tornando crônico, pois o paciente aprende que é o único meio de que dispõe para se livrar da ansiedade e dos pensamentos desagradáveis ​​que habitam a sua mente.

Em geral, as compulsões não estão relacionadas de forma realista com o medo de acontecer o que a pessoa teme, ou são claramente excessivas. Por exemplo, uma paciente pode acreditar que, se bater três vezes ao sair e entrar pela porta de sua casa, o seu marido não sofrerá um acidente de trânsito a caminho do trabalho.

Os pacientes que não manifestam esse tipo de sintomatologia, ou seja, não recorrem às compulsões para aliviar o desconforto, são mais complexos. Tratar as obsessões puras é mais difícil, mas atualmente existem técnicas psicológicas para abordá-las.

 


 

A chave para tratar as obsessões puras é a habituação

O fato de as obsessões serem reforçadas de forma negativa quando se pratica a compulsão leva à não habituação, à ansiedade ou ao medo que elas geram.

Portanto, as obsessões são alimentadas, e alimentando-as progressivamente, elas ficam mais fortes. Nos transtornos obsessivos puros o tratamento é baseado na habituação, e para que isso ocorra é imprescindível uma exposição às próprias obsessões.

Essa exposição costuma ser aversiva para os pacientes. A exposição preventiva de resposta pode levar a uma rejeição significativa e até mesmo à descontinuação do tratamento. Esta é uma das suas desvantagens; porém, até o momento, as evidências empíricas nos mostram que são os tratamentos que apresentam maior sucesso terapêutico na maioria dos pacientes que conseguem concluí-los.

Para evitar esta desvantagem, é fundamental se adaptar à capacidade do paciente de tolerar a ansiedade e respeitar a janela terapêutica que lhe permite se habituar, mas sem se tornar demasiado apavorante. Encontraremos a virtude no meio termo.

 

 

Estratégias de tratamento

O objetivo, enfim, é que a pessoa se exponha aos seus pensamentos ou imagens de forma que, voluntariamente, possa trazê-los à tona e “olhá-los nos olhos”. O treinamento de habituação deriva da pesquisa de Salkowskis e Westbrock.

Geralmente é realizado em uma gravação de áudio na qual o paciente registra as suas obsessões puras e as escuta repetidamente até se acostumar com elas. A previsibilidade dos estímulos aos quais o sujeito é exposto é o fator-chave do tratamento. Por meio da gravação, o paciente pode prever o que ouvirá, ao contrário do que acontece com as obsessões puras, que são imprevisíveis.

Além da gravação de áudio, outras estratégias podem ser utilizadas para apresentar os pensamentos de forma previsível: evocando-os deliberadamente, narrando-os em sessão ou colocando-os por escrito e relendo até que a ansiedade diminua.

É necessário explicar em detalhes ao paciente como funciona a ansiedade e como a habituação segue uma curva em que primeiro aumenta, mas em um determinado ponto começa a diminuir. A psicoeducação facilita a adesão ao tratamento e favorece a relação terapêutica.

 


 

A curva da ansiedade

A curva característica da ansiedade tem a forma de um “U invertido”. Como já observamos, quando uma pessoa é exposta aos seus medos (seja por meio de fotos, ao vivo ou, no caso de TOC puro, por gravação ou escrita), ela experimenta um aumento substancial da ansiedade.

Esse momento é fundamental porque o paciente pensa que está pior e está certo, ele se sente muito mais ansioso. Mas essa escalada desagradável é finita. Fisiologicamente e inevitavelmente, o aumento da ansiedade tem um limite.

Quando esse desconforto atingir o ponto máximo e o paciente não realizar nenhum ritual, comportamento de segurança ou qualquer evitação de qualquer outro tipo, a ansiedade começará a diminuir progressivamente. Por que isso acontece? Primeiro, em um nível emocional, nem a ansiedade e nem qualquer outra emoção aumenta linearmente. Não é o padrão característico. Não há nenhum caso em que a emoção tenha aumentado tanto até que acabasse matando alguém.

Por outro lado, o simples fato de tomar consciência de que as nossas cognições são enviesadas ou irrealistas nos permite modificá-las para outras muito mais moderadas. Dessa forma, a ansiedade começa a perder aquelas âncoras que utilizava antes para crescer.

Definitivamente, o fundamental é evitar que o paciente que vai se expor às suas obsessões ou a qualquer outro estímulo que causa ansiedade saiba que ficar e persistir é a chave do sucesso. Na verdade, as exposições curtas podem produzir um efeito iatrogênico; além do paciente não conseguir superar o seu medo, ainda o aumenta.

Tolerar a ansiedade, apesar do desconforto que pode resultar de uma exposição, é a maneira crucial de sair vitorioso dessas punhaladas mentais chamadas obsessões.

 

Fonte:blog: https://blog.cicloceap.com.br/