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domingo, 21 de julho de 2019

Psicologia Escolar

Histórico, Características e Práticas do Psicólogo no Contexto da Psicologia Escolar


Histórico, Características e Práticas do Psicólogo no Contexto da Psicologia Escolar
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Resumo: Antes de entrar na história e no contexto da Psicologia Escolar, se faz necessário um entendimento da diferença que existe entre essa e a PsicologiaEducacional que se complementam, mas possuem características que as tornam específicas. Para tanto se recorre ao que apresenta Antunes (2008) A natureza dessa relação se expressa, pelo menos, em duas dimensões: a psicologia educacional como um dos fundamentos científicos da educação e da prática pedagógica e a psicologia escolar como modalidade de atuação profissional que tem no processo de escolarização seu campo de ação, com foco na escola e nas relações que aí se estabelecem). A busca pela literatura ocorreu em dois momentos: antes da entrevista através de fontes de confiabilidade educacional – scielo, bvs psi; revistas e livros da área da Psicologia Escolar e pós entrevista uma busca da literatura referenciada pela profissional. Entende-se que a valorização do psicólogo escolar, ainda existe como aquele tabu de que ele seja um ser que resolve tudo, e que perdura o valor mágico do psicólogo. Enquanto profissional o psicólogo deve valorizar outra forma de atuar na escola e mostrar perante a sociedade que qual a melhor atuação para resolução de conflitos e melhorias no rendimento escolar.
Palavras-chave: Psicologia Escolar, Psicologia Educacional, Escolas.

Introdução

As diferentes abordagens da Psicologia perpassam os conteúdos das disciplinas na fase inicial do curso e despertam uma curiosidade imensa. Esse sentimento é muitas vezes reforçado pelo testemunho de cada docente que tem buscado contextualizar a literatura e as práticas, com histórias fundamentadas em casos reais.
Nessa busca é possível cortejar o que está disposto nas diversas obras apresentadas, e as falas, muitas vezes polêmicas, dos que ministram as disciplinas. Conhecer os diferentes olhares através da disciplina Ciência e Profissão foi essencial nesse processo formativo e tem se apresentado especialmente enriquecedor por apresentar as abordagens a partir da sua origem.
O trabalho em foco tem o intuito de aprofundar sobre a Psicologia Escolar e para tal contou com a colaboração da Profª Dra. Lorrana Caliope Castelo Branco Mourão que cedeu entrevista gravada (CD) em 24 de maio de 2016, no espaço da UNILEÃO, em sala do  Serviço de Psicologia Aplicada – SPA, com duração de aproximadamente 25 minutos. Significativa fração desse tempo foi usada discutindo a importância da Psicologia Educacional sendo que o segundo bloco para a parte específica da Gestalt.
A busca pela literatura ocorreu em dois momentos: antes da entrevista através de fontes de confiabilidade educacional – scielo, bvs psi; revistas e livros da área da Psicologia Escolar e pós entrevista, uma busca da literatura referenciada pela profissional.
Para efeitos didáticos o desenvolvimento do trabalho inicia-se fazendo um breve histórico da área da Psicologia Escolar evidenciando seu ingresso e movimento nessas instituições e observando as contribuições de Antunes (2008), Barbosa e Marinho-Araújo (2010) e legislação pertinente da educação. Em seguida é feita uma abordagem das características dessa área, trazendo as observações de Dadico e Souza (2010), Costa, Souza e Roncaglio (2003) e as premissas abordadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Essa parte se finaliza com as anotações sobre a prática do psicólogo no contexto escolar, que usa uma base de Bock, Furtado e Teixeira (2008), Ausubel (1963), Yamamoto et al. (2013) Freire (1996) e Patto (1981).
Destarte, cabe ressaltar a participação especial da entrevistada com suas contribuições e sugestões para novas leituras e aprofundamentos.    

Histórico da Área da Psicologia Escolar                        

Antes de entrar na história e no contexto da Psicologia Escolar, se faz necessário um entendimento da diferença que existe entre essa e a Psicologia Educacional, que se complementam, mas possuem características que as tornam específicas. Para tanto, recorre-se ao que apresenta Antunes (2008, p. 12):
A natureza dessa relação se expressa, pelo menos, em duas dimensões: a psicologia educacional como um dos fundamentos científicos da educação e da prática pedagógica e a psicologia escolar como modalidade de atuação profissional que tem no processo de escolarização seu campo de ação, com foco na escola e nas relações que aí se estabelecem.
Os primeiros laboratórios de psicologia no Brasil datam do final do século XIX para o início do século XX e estudavam principalmente os problemas de aprendizagem em crianças destacando uma influência norte-americana e francesa. As práticas escolares no cenário brasileiro serviram para ressignificação do movimento da psicologia escolar e da atuação dos psicólogos, principalmente a partir da década de 1990 (BARBOSA; MARINHO-ARAÚJO, 2010).
A psicologia escolar aparece com diferentes focos e mais voltada para a clínica, no destaque da medicina que buscava cura para os problemas, o que de certa forma inviabilizaria seu desenvolvimento, posto que não teria estrutura para tal modelo se desenvolver.
No início da psicologia escolar no Brasil, evidenciou-se o caráter clínico e terapêutico das intervenções realizadas; vale destacar, nesse sentido, o livro de Franco, datado do ano de 1915 e intitulado “Noções de pedagogia experimental”, que, além de trazer reflexões sobre as capacidades mentais elementares, apresentava definições de retardatários escolares e comentários acerca da educação especial de deficientes visuais e auditivos sem consonância com estudos de Binet, Simon e Pestalozzi (PFROMM NETTO, 2001, apud BARBOSA; MARINHO-ARAÚJO, 2010, p. 394).
Considerando a área da educação, as Leis de Diretrizes e Bases definem desde os princípios e fins da educação nacional, a toda organização dos sistemas e redes. Destaca-se que o contexto político, social e econômico é definidor das práticas que devem ficar vigentes. O exemplo dessa definição toma-se a LDB 5692 de 1971, que amplia consideravelmente o acesso das camadas populares às escolas, quando tornou a escolaridade obrigatória e gratuita.
Com esse universo ampliado, os problemas também assumiram dimensões que fugiam do controle das escolas. A psicologia entra na escola como uma necessidade para enfrentar os desafios que os professores e pedagogos não conseguiam solucionar, porém, o modelo executado não respondeu a contento por aplicar um olhar mais clínico e serviu em muitos casos, tão somente para justificar o fracasso escolar. Esse período não foi fácil para firmar um entendimento entre a psicologia e a educação, e segundo Barbosa e Marinho-Araújo (2010, p. 395):
Esse período se caracterizou pela produção de reflexões e pesquisas que evidenciavam os entraves causados por concepções remediativas e circunstanciais aplicadas ao processo educativo, além de repercussões que originaram desestabilização e insegurança na atuação em psicologia escolar, uma vez que os procedimentos convencionais não mais respondiam com eficácia às demandas do contexto.
A criação da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) foi determinante para a melhoria nessa área e originou-se a partir das discussões que aconteceram nas décadas de 1980 e 1990, no qual se desenhava também a nova LDB que foi promulgada em 1996 com significativa participação da sociedade.
Com a ABRAPEE muitas discussões foram promovidas no sentido de eliminar práticas discriminatórias e promover uma mudança positiva na relação do psicólogo que atua em âmbito escolar. Desde o início desse século é perceptível o avanço da discussão teórica acerca da atuação do psicólogo escolar e segundo Barbosa e Marinho-Araújo (2010, p. 396) “(...) dentre os temas contemplados estão a atuação institucional, a participação do psicólogo escolar na formação de professores e na elaboração do projeto político pedagógico da escola e experiências de estágios baseadas em metodologias de pesquisa-ação”.
Em primeiro plano é visto a necessidade do ser humano em relação com a psicologia escolar, mostra-se a questão da humanização, ou seja, a parte que o indivíduo não nasce com ele, mas ele se forma ao decorrer do tempo, também há duas características que se enquadram nesse contexto: a forma de historicidade e sociabilidade; ambas têm uma contribuição para a área. A parte social que é integrada na sociedade faz parte de um dos mecanismos utilizados no termo escolar. Ademais, a cultura se encaixa nele, gerando assim nos indivíduos que compõem a sociedade, uma forma de desenvolvimento em relação ao todo; o conhecimento se tornou algo fundamental.
A psicologia escolar é muito importante para o ser humano, pois ela abrange muitos conhecimentos que se tornam voltados para a área do conhecimento, sendo essa área sistematizada e a junção de vários saberem em um só, tendo relação com o psicológico do processo de educação.
O objetivo da psicologia escolar é perceber os aspectos que compõem a escola e como se fundamenta a forma de organização da tal instituição, como o ensino é transmitido aos alunos (se está sendo passado correto), como também a parte de motivação dos indivíduos em relação à formação do seu aprendizado, que é de fundamental importância. Além disso, a questão dos funcionários que contribuem para tudo acontecer, dessa forma, outro ponto que ganha destaque é o fato de que os psicólogos escolares que tem a preocupação com alguns alunos detentores de problemas e dificuldade de aprender poderem diagnosticar o caso e propor intervenções.
Não se podem esquecer os problemas emocionais que algumas crianças sofrem em casa e passam para a escola, necessitando de auxílio, conversar e poder entender e ajudar, como também crianças que possuem algum problema mental ou comportamental que também necessitam de um acompanhamento pela psicóloga da gestão da educação.
Enfim, nota-se a grande participação que o psicólogo escolar tem nas escolas, a sua responsabilidade, sem deixar de mencionar que ele é essencial para o indivíduo para as questões escolares. O auxílio que ele dá para o desenvolvimento da sua aprendizagem no decorrer dos anos, como também para o seu pensamento crescer mais maduro e como uma visão de um todo.
A história da psicologia escolar pode ser percebida desde os tempos coloniais, quando começou a surgir um lado preocupante na parte da educação, pois traz em sua parte mais larga questões psicológicas. Está em processo de desenvolvimento e faz a interface entre psicologia e educação. As ideias psicológicas na educação deram espaços às discussões sobre a criança e o seu processo educativo, porque abriram diálogos para a aprendizagem, desenvolvimento, ensino, dentre outros. Segundo Antunes (2008, p. 470):
No século XIX, idéias psicológicas articuladas à educação foram também produzidas no interior de outras áreas de conhecimento, embora de maneira mais institucionalizada.  No campo da pedagogia, escolas normais (criadas a partir da década de 1830) foram espaços de discussão, ainda que incipientes e pouco sistemáticos, sobre a criança e seu processo educativo, incluindo temas como aprendizagem, desenvolvimento, ensino e outros.
Assim, percebe-se as ligações entre a psicologia e a educação, não deixando de lado a pedagogia, que articula a parte teórica e a parte prática pedagógica, porque o ato entre essas duas áreas foi essencial para a psicologia conquistar sua autonomia. Os campos de atuação da psicologia se desenvolveram a partir da década de 30, e com isso a educação continuou sendo origem para o desenvolvimento da psicologia. Alguns psicólogos escolares na década de 70 fizeram críticas tanto a psicologia escolar quanto a educacional como: hipertrofia da psicologia na educação.
Nesse sentido, a superação dessa situação exigia não somente a crítica à hipertrofia da psicologia na educação, ao reducionismo, às interpretações aligeiradas e banalizadas, às ações fundadas num modelo estranho à educação, como o modelo médico, e à culpabilização da criança e de sua família, mas também a restituição de seu núcleo de bom senso. Fazia-se necessário devolver à psicologia seu lugar no processo pedagógico. (ANTUNES, 2008).
As relações entre a Educação e a Psicologia existem, pois a área da psicologia educacional tem o interesse tanto em pedagogos quanto em psicólogos (a psicologia escolar se especifica no profissional da psicologia que atua no campo escolar). O foco dessas duas áreas são os compromissos e as perspectivas em relação ao indivíduo.
Portanto, isso significa que dentre muitos diálogos em relação à respectiva área do saber, é importante que ocorram perspectivas em relação ao avanço da mesma e o aperfeiçoamento das práticas a ela destacadas. A história mostra que alianças entre a Psicologia, educação e sociedade seguiram para interesses opostos, na maioria das vezes contra os direitos das classes populares. Desta compreensão podemos entender de maneira efetiva a construção de uma Psicologia Escolar, logicamente comprometida com uma educação social dedicada aos interesses dessas classes. Isso define e determina o compromisso e a atuação do psicólogo.

Características da Área da Psicologia Escolar

Os trabalhos desenvolvidos por psicólogos na área educacional documentado pelo Conselho Federal de Psicologia (vide anexo), despertam interesse e promovem uma leitura das características a partir dos verbos e termos utilizados para enumerar as ações a serem executadas por esses profissionais. São eles: elaborar, colaborar, supervisionar, orientar, executar, diagnosticar, participar, desenvolver e planejar.
O que está posto nas orientações que descrevem sua ocupação dentro dos setores que existem como possibilidades de atuação, apontam para um trabalho com características de colaboração e compartilhamento de saberes. O psicólogo não atua no ramo escolar como se estivesse na clínica ou em outro âmbito. Fato bem específico porque os universos das instituições escolares diferem em muito de outras instituições, sejam elas públicas, privadas, confessionais ou até mesmo ONGs. A educação possui essa face agregadora e humanitária.
Segundo Dadico e Souza (2010, p. 16):
O caráter coletivo dos trabalhos realizados nas organizações não governamentais acaba, em si, constituindo fonte de satisfação para os profissionais envolvidos, pois eles sentem que seu trabalho é relevante e necessário – ainda que isso, em muitos casos, signifique uma carga de trabalho julgada excessiva e desviada para funções pouco nobres.
Mesmo apresentando essas características, os desafios encontrados pelos profissionais que não são da área do magistério, mas entram nesse contexto, são grandes e padecem de uma espécie de “contaminação”. Os salários podem ser nesse caso um exemplo, e o exposto por Dadico e Souza (2010, p. 12) para a realidade das ONGs pode ser replicado nas demais instituições: 
Uma das explicações que revela a dificuldade em se atingir uma remuneração adequada em organizações não governamentais é o fato de, no Brasil, o trabalho social possuir historicamente forte vinculação com a Igreja e, em consequência, com a ideia de doação, ou, sob o novo discurso, de voluntariado, como contraponto laico, aponta-se a busca do trabalho competente.
Ideia não muito diferente da atividade laboral de lecionar, pois há grandes mitos e equívocos sobre a nobreza dessa profissão.
Para Santos e Ferreira (2015), em relação aos psicólogos que atuam em instituição particular: “o psicólogo trata do desenvolvimento do aluno seja ela criança ou adulto, sua aprendizagem, emocional e social.” Essa visão aponta para uma gama de possibilidades que os profissionais encontram nas escolas.
A Psicologia Escolar tem como referência conhecimentos científicos sobre desenvolvimento emocional, cognitivo e social, utilizando-os para compreender os processos e estilos de aprendizagem e direcionar a equipe educativa na busca de um constante aperfeiçoamento do processo ensino/aprendizagem. Sua participação na equipe multidisciplinar é fundamental para respaldá-la com conhecimentos e experiências científicas atualizadas para tomada de decisões em questões relevantes no dia a dia da sala de aula, nas quais os fatores psicológicos tenham papel preponderante (SANTOS; FERREIRA 2015, p. 1).
É a partir de uma visão dessa natureza que se explica as frentes relacionadas a parte preventiva e a parte que requer mudanças, passando essa característica a ser considerada dependendo do contexto. Outra importante característica é a variação de técnicas e métodos que podem ser utilizados pelo psicólogo escolar para auxiliar nessa prática. Aqui podem se destacar: observação, avaliação psicológica, aconselhamento, dinâmicas e grupos operativos.
Para Costa, Souza e Roncaglio (2003, apud PATIAS, 2011) é através da observação que se dá a procura do que está encoberto e essa possibilidade favorece uma melhora na relação dos indivíduos com o que está ao seu redor.
Para observar necessária uma atenção concentrada aos fenômenos que ocorrem, nas condições, tentando buscar suas causas, leis e propriedades. O psicólogo escolar deve estar atento e observar tudo o que acontece no contexto escolar, pois é através da sua observação que este pode levantar demandas para seu trabalho como psicólogo escolar (COSTA; SOUZA; RONCAGLIO, 2003 apud PATIAS, 2011, p. 7).
Ainda devem ser consideradas as seguintes técnicas que seguem descritas como colocadas pelos autores, e organizadas aqui em diagrama:
    
Avaliação psicológica:
O psicólogo escolar pode lançar mão de avaliações psicológicas para aquelas crianças e adolescentes que, após tentativas de resolver dificuldades dentro do sistema da sala de aula, possuem dificuldades maiores, mais individualmente necessitem de um apoio psicológico.
Aconselhamento:
Relação entre duas pessoas, na qual uma delas é ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional e profissional.
Dinâmica:
Espera que as pessoas possam desinibir a capacidade criadora, tornando-se mais desenvoltos, aumentar as transformações dos grupos, alterando a produtividade, aumentar a coesão grupal, proporcionando um aperfeiçoamento do trabalho coletivo.
Grupos Operativos
A pessoas que dele participam aprendem além de pensar, adquirir conhecimento que os capacita a observar e a escutar, a relacionar as opiniões do outro com suas próprias opiniões, admitir que o pensamento do outro pode ser diferente do seu e também a formular hipóteses em uma tarefa de equipe.
Fonte: Elaboração própria a partir do artigo de Patias (2011).
Destarte, essas possibilidades se ampliam infinitamente quando a cooperação se processa dentro da equipe escolar criando e recriando alternativas para alcance de metas.

Atuação do Psicólogo no Contexto da Psicologia Escolar

Sendo a escola uma importante instituição social que abriga considerável  processo de desenvolvimento do ser humano nas diferentes faixas etárias e acompanha, por muitas vezes, a existência de conflito desses indivíduos enquanto cidadão em permanente processo de crescimento e desenvolvimento, esta deve ser objeto de especial atenção para o desenvolvimento da sociedade e compartilhamento dos saberes historicamente acumulados.
 Ao falar de escola há uma compulsória necessidade de registrar também os processos da aprendizagem e as compreensões históricos acerca desse assunto. Na existência de psicólogos dentro das instituições escolares, olhares diversos são direcionados aos alunos, gerando novas possibilidades de condução dos processos de aprendizagem.
As teorias psicológicas no campo da aprendizagem são as teorias de condicionamento e as teorias cognitivas. Para Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 132-133) nas “(...) teorias de condicionamentos estão as contribuições que definem a aprendizagem por suas consequências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como força propulsora da aprendizagem.” Segundo a mesma autora, as teorias  cognitivistas definem aprendizagem como um “(...) processo de relação do sujeito com o mundo externo, com consequências no plano da organização interna do conhecimento”.
Esses modelos presentes nas mais diferentes realidades da educação brasileira requerem dos psicólogos uma abordagem mais refinada nas intervenções, considerando que as rotinas pedagógicas nas salas de aulas deixam impregnadas as consequências, nem sempre conscientes, feitas pelo professor na execução do seu trabalho.
Quando se trata de aprendizagem, os modelos levam em consideração a organização das informações e a forma como acontece o processo de ensino-aprendizagem, cabendo nesse momento destacar a aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa. Nessa última, evidencia-se o conceito de cognição baseado em David Ausubel (1963), que aparece como  um processo através do qual o mundo de significados tem origem, sendo dele a afirmação que  "O fator isolado mais importante que influencia o aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece"; ideia apresentada quando as teorias behavioristas predominavam.
Nessa mesma linha de pensamento evoca-se o pensamento de Jerome Brumer (apud Bock, Furtado e Teixeira, 2008, p. 136) de que o “ensino envolve a organização da matéria de maneira eficiente e significativa do aprendiz”.  Bruner ainda postula que “qualquer assunto pode ser ensinado com eficiência, de alguma forma intelectualmente honesta, a qualquer criança, em qualquer estágio de desenvolvimento”.
Nesse intento, o psicólogo pode contribuir para essa leitura de realidades e tempos dentro das práticas escolares, alertando sobre a necessária gradação dos conhecimentos, sempre partindo dos conceitos mais simples para os mais complexos. Essa contribuição é fundamental, a partir do momento em que se constata um pensamento pedagógico que espera dos alunos os melhores resultados sem identificação dos seus níveis e diferentes ritmos.  Outro fator decisivo no processo de aprendizagem tem relação com a motivação, que por sua vez está ligada ao ambiente, podendo ser entendida uma espécie de cadeia montada no tripé Ambiente-Organismo-Interesse ou Necessidade (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).
Teóricos como Jean Piaget, Lev Vygotsky, Henri Wallon, Emília Ferreiro, David Ausubel  estão na lista dos que muito contribuíram para aprofundamento nessa área, sendo leitura tanto para  psicólogos como para pedagogos. A referência a autores da educação, como Paulo Freire, Miguel Arroyo, Celso Vasconcellos contribuem nesse universo. Em cada um deles há uma carga adicional de conhecimentos necessários para a melhoria de desempenho dos profissionais. No olhar mais clínico as leituras são relacionadas a “autores clássicos da Psicologia clínica, principalmente os de base psicanalítica, como Sigmund Freud, Donald Winnicott e Jacques Lacan” (YAMAMOTO et al., 2013).
As instituições escolares diferem de outros tipos de instituições, e, portanto, requerem dos profissionais posições e comportamentos adequados ao trabalho que ali se realiza. Tomando emprestadas as palavras do professor Paulo Freire, é possível entender um pouco desse universo em que se entrelaçam “gentes” e “histórias”, quando assevera:
Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam (FREIRE, 1996, p. 54).
E nesse pensamento deve-se fundamentar o psicólogo que encontra situações diversas em diferentes ordens e contextos para lapidar as relações e contribuir com seus conhecimentos para uma prática baseada em princípios éticos.
Quando a atuação do psicólogo acontece na escola pública, há fatores adicionais que merecem uma atenção, pois segundo Patto (1981, p. 8) no prefácio do seu livro já alerta:
O que o psicólogo necessita, tendo em vista as especificidades da instituição escolar pública em que vai atuar (e como condição sine qua non para a adoção de uma postura profissional mais consciente, mais crítica e mais comprometida com a transformação do mundo e com a dignidade do homem) é compreender as relações entre a escola e sociedade (...).
Uma visão equivocada da profissão de psicólogo pode instigar uma expectativa diferente da atuação desse profissional no meio escolar, gerando uma esperança de pronta resolução de conflitos, correções de problemas mentais, atendimentos individuais, desenhos de perfis: um novo ser que é meio bruxo meio santo, salvador da pátria, entre outros. Essa relação deve ser bem estabelecida e pactuada no início do efetivo exercício da profissão.
Observando algumas recentes críticas a presença dos psicólogos nas escolas, recorta-se o pensamento ligados ao cunho psicodiagnóstico, psicoterapêutico e reeducativo que segundo (YAMAMOTO et al., 2013) acontece a partir da década de 80. Outras críticas surgem e questionam o papel dos psicólogos no contexto escolar. Dentre elas pode-se destacar “dois grandes eixos: na necessidade de superar a noção unilateral de adaptação da criança ao sistema escolar e na atuação do psicólogo como profissional independente do corpo administrativo da escola (MALUF, 1994 apud YAMAMOTO et al., 2013).
Embasando as concepções teóricas dos psicólogos, as tendências mais adotadas nas escolas são: tendência clínica, tendência institucional e tendência clínica e institucional. Sobre cada uma delas pode-se desenhar alguns entendimentos que baseados em Yamamoto et al. (2013) a primeira se baseia numa “atuação profissional individualizada, baseada em diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem”, enquanto a institucional “reúne respostas referentes a formas de intervenção em que a atuação tem como foco a instituição educativa como um todo, incluindo os diversos atores do contexto escolar” e a finaliza com uma tendência que se desenha com características de ambas as tendências “(...) situando-se em uma posição intermediária entre a tendência clínica e a institucional”.
Participar da formação dos educadores é uma tarefa em vigência na rotina do psicólogo escolar por proporcionar que alguns saberes necessários cheguem na vida dos alunos e contribuindo para a ação-reflexão-ação dos projetos escolares, atingindo uma amplitude de chegar nos lares e de certa forma na sociedade. Desse modo, a resolução de conflitos e afinidades nos convívios podem ser incrementados com essa presença forte do psicólogo, que faz a transposição de teorias para uma prática pulsante, sem descuidar do respeito e da ética.
Inexoravelmente, essa conclusão se apoia no pensamento de Babosa e Marinho-Araújo (2010, p. 400):
A busca pela ressignificação das concepções de intervenção e das práticas do psicólogo escolar com vistas à realização de um serviço que procure trabalhar não mais na remediação das dificuldades de aprendizagem, mas na reflexão, contribuindo, assim, para  a transformação do espaço escolar em local de valorização do ser humano, responde a questionamentos e alenta os incômodos. Entretanto, abre espaço a novos desafios e propõe a continuação da tecitura da história da psicologia escolar.
Essa postura certamente contribuirá não somente para a melhoria das relações nesse contexto, mas também para a construção de uma escola que tenha uma função social definida e baseada na justiça, nos valores que estão previstos em lei e aguardados por tantos usuários desse sistema.

Análise da Entrevista

A entrevistada, a psicóloga e professora Lorrane Caliope Castelo Branco Mourão, que além de ser graduada, possui mestrado e doutorado em psicologia, tendo como principal autor de suas pesquisas Fritz Perls. Sua fala se baseia na própria vivência profissional, que tem um atravessamento clínico além da docência e da pesquisa. Ela chama a atenção para o fato da Gestalt fundamentar sua vida quando aponta sobre “a fluidez dos processos” e “da importância de viver os momentos presentes”, e reforça que as “experiências devem ser vividas, usando os termos: aqui e agora” termo destacado também por Bock (2008, p. 95).
No decorrer da entrevista deixa-se bem claro que existe diferença entre psicologia escolar e psicologia educacional, na qual a psicologia escolar está restrita ao âmbito da escola, sendo escola infantil, fundamental e médio, tanto em escola de ensino público ou restrito. A psicologia educacional lida com a relação da psicologia não com base estritamente a escola, mas sim com o todo, pois existem outras formas de educação que não precisam ser necessariamente ligadas à escola, na qual podemos citar como exemplo, as escolas não tradicionais que não estão em ambientes restritos.
A perspectiva da psicologia educacional é tratar a educação como algo mais amplo que não está restrito somente a escola. A entrevistada afirma que utiliza a psicologia educacional, pois, a mesma é algo amplo. É de tamanha importância do psicólogo dentro e fora da escola entender todos os contextos no qual o aluno está inserido. O psicólogo dentro da área educacional é muito essencial, porém não só na escola, pois, a escola é só um dos campos que o psicólogo pode atuar. O profissional poderá realizar atividades dentro e fora da escola, tanto em escolas tradicionais, como em escolas não formais. A presença do psicólogo no âmbito escolar é de total relevância, pois o mesmo poderá não solucionar todos os problemas, mas irá entender e terá sua visão sobre aquele assunto.
Quando se fala em psicologia escolar, tende-se a achar que o único âmbito de trabalho será a escola, porém, por meio deste trabalho ficará claro que a escola não é o único lugar de intervenção do profissional educacional, mas sim o todo, no qual poderá educar fora e dentro da escola. A visão que se tem do psicólogo escolar ainda hoje é de um mágico que terá que resolver todos os problemas do aluno que não se portar de forma correta diante das regras impostas pela escola, e diante de tais problemas estão os problemas familiares, sociais e até mesmo da escola. Para que possa resolver os problemas, o psicólogo acaba tendo que ter uma visão individualista sobre o aluno e para que haja a resolução dos problemas. O psicólogo passa a ter uma visão de cura, na qual o profissional deverá curar o aluno do seu problema, no qual busca abordar mecanismos e técnicas tanto clínicas e individuais.
O grande desafio da psicologia escolar/educacional dentro da escola é parar de culpabilizar tudo, sendo que a culpa ora é da escola, do aluno, da aprendizagem, da família e da estrutura social, e assim passar a ter uma perspectiva menos individualista e multidimensional, procurar ver todos os aspectos que estão na escola entre todas as relações, pois não tem como desvincular a escola do meio social, devem-se observar todos os problemas com multidimensões, pois tudo poderá causar algum tipo de problema. A valorização do psicólogo na área escolar ainda é de mágico que deverá resolver todos os problemas, porém, cabe ao psicólogo atuar de forma correta.

 Conclusão                                          

Em virtude dos fatos mencionados, pode-se inferir que há uma diferença entre psicologia escolar e psicologia educacional, sendo a primeira restrita à escola, ou seja, do ensino fundamental ao médio, já a psicologia educacional trata-se da educação como todo. Percebe-se também que o psicólogo escolar é ainda em muitos casos visto como um “mágico” que resolve todos os problemas da escola como, por exemplo, alunos hiperativos. Em questões sociais ou em questões da demanda da escola, um grande desafio do psicólogo escolar é parar de “culpar” tudo, isto é, coisas ou pessoas.
O psicólogo escolar deve buscar agir de forma de multidimensões, ou seja, de educação, de sociabilidade, de questões psicológicas e etc., cuidando para não medicalizar as crianças e clinicalizar a mente das mesmas, nem colocar as situações de forma clínica.
Entende-se que a valorização do psicólogo escolar ainda existe como um tabu de que ele seja um ser que resolve tudo, e que perdura o valor mágico do mesmo. O Psicólogo, enquanto profissional, deve valorizar formas de atuar na escola que mostrem perante a sociedade que sua prática não se resume à resolução de problemas.
Portanto, o comportamento e a ética devem se pautar pelas orientações já emanadas do Conselho Federal de Psicologia e o sentimento de construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

Referências:

ANDALÓ, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Revista Psicologia Ciência e Profissão. versão impressa ISSN 1414-9893. vol.4 no.1 Brasília  1984
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Psicologia Escolar e Educacional. Campinas, Print version ISSN 1413-8557. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) vol.12 no.2 Dec. 2008.
BARBOSA, R. M. MARINHO-ARAÚJO, Clasy Maria. Psicologia escolar no Brasil: considerações e reflexões históricas. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v27n3/11.pdf Acesso: 13 de abril de 2016
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA . Atribuições do psicólogo.Disponível em http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2008/08/atr_prof_psicologo.pdf. Acesso: 14 de abril de 2016.
DADICO,L. SOUZA M.P. R. Atuação do psicólogo em organizações não governamentais na área da Educação. Psicologia: ciência e profissão. Brasília Versão impressa ISSN 1414-9893.v.30 n.1 mar. 2010.
ENTREVISTA:  Psicóloga Lorrana Caliope Castelo Branco Mourão. Concedida e  Gravada em 24 de maio de 2016. UniLeão. Juazeiro do Norte - Ce
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.  36ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
PATTO, M. H. S. (1981). (Org.), Introdução à psicologia escolar. 3 ed .São Paulo: 1997.
PATIAS, N. D. GABRIEL,  M. R. Psicólogos. Disponível em  www.psicologia.ptDocumento produzido em 07-04-2012
NASCIMENTO, Jandir Gomes do; SOUSA, Nisia Floresta Brasileira Augusta de Paula e; MENEZES, Rogéria; VIANA, Teresa Cristina Pereira Barbalho; PEREIRA, Wigina Raiana Pereira. A Atuação do Psicólogo no Contexto Escolar. Psicologado. Edição 03/2014. Disponível em < https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-escolar/a-atuacao-do-psicologo-no-contexto-escolar > Acesso: 14 de abril de 2016
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