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terça-feira, 6 de agosto de 2019

Psicologia Positiva e Cognitiva para uma Vida Feliz


Psicologia Positiva e Cognitiva para uma Vida Feliz
(Tempo de leitura: 6 - 12 minutos)

Resumo: Durante toda a história da psicologia, verifica-se uma preocupação demasiada na tentativa de querer conhecer o ser humano por uma vertente psicopatológica. Atribuir conceitos para quantificar condutas que pareceram ser uma via inteligente na compreensão do homem. Em meados de 1998 surgiu o psicólogo Martin Seligman oferecendo-nos uma proposta de conceitos revolucionários, colocando o homem em posição de observar e relevar as suas potências humanas baseadas em virtudes e qualidades articuladas com o sentido de felicidade. Este artigo tem por objetivo oferecer fragmentos de informações para a ciência humana, acreditando-se que a psicologia positiva e cognitiva poderá contribuir para uma vida satisfatória e melhor para o homem. 

1. Introdução

Estamos presenciando acontecimentos jamais vistos em toda a história humana. Os seres humanos estão perdendo suas perspectivas de valores e baseando suas realidades ao que parece serem fatores existenciais satisfazendo somente as suas necessidades básicas imediatas. O homem, deixa de transcender com pensamentos reflexivos e não consegue colocar as suas potências mentais, para visualizar possibilidades de evolução em sentido maior, correspondendo às demandas de suas necessidades existenciais. Este comportamento fomenta as mazelas da vida, como por exemplo, a falta de valores morais, doenças psíquicas, físicas, miséria, fome e imoralidade, provocando uma postura totalmente contrária à sua vontade de evoluir e satisfazer o sentimento de completude frente à vida. Serão estas algumas causas dos conflitos interpessoais e intrapessoais, causando psicopatologias que levarão o ser humano ao auto-extermínio? O homem está conseguindo desenvolver dignidade com essas posturas? O que fazer? E como a ciência humana poderá contribuir para que haja uma mudança satisfatória?
Acredita-se que a psicologia positiva e cognitiva, com a sua prática revolucionária, poderá auxiliar contribuindo com a mudança e alavancando o sentimento de bem-estar, promovendo a felicidade humana.
Segundo o maior representante da psicologia positiva, Martin Seligman, a ciência da psicologia não conseguia valorizar o lado positivo do homem. Seligman (2002), aponta a ciência humana contemporânea, como o momento de se pensar em outras vertentes de compreensão do homem. A psicologia positiva, surge para revelar as qualidades positivas, baseadas no crescimento da personalidade, educação, sociedade e afetividade, contribuindo para um homem contemporâneo resiliente e feliz.

2. Psicologia Positiva

Segundo Sheldon (2001), a psicologia positiva é um movimento contemporâneo da psicologia que valoriza as potências, motivações e capacidades humanas, com ênfase na busca pela felicidade e os estudos das doenças mentais.
A partir de 2003, Martin Seligman, vem desenvolvendo estudos científicos dos aspectos positivos do ser humano. Suas premissas de investigações básicas são:
  • 1) A experiência subjetiva (bem-estar subjetivo, felicidade);
  • 2) As características individuais – forças pessoais e virtudes (afeto e perdão);
  • 3) As instituições e comunidades (ética, tolerância e responsabilidade social).
  • Nota-se que diante dessa nova proposta psicológica, o homem passa a ter chances de colocar em prática as suas habilidades, não somente nos aspectos individuais, mas também interpessoal e social. Portanto, a proposta maior deste artigo é demonstrar com clareza os benefícios da psicologia positiva e cognitiva, para gerir melhor as relações interpessoais. As emoções negativas não poderão representar para o indivíduo o que de fato é a realidade dos seus sentimentos. A psicologia positiva, poderá fortalecer a mente, com os pensamentos positivos, esperança e a alegria contagiante de acreditar em si e nas pessoas.
Para Martin Seligman, estar engajado em atividades prazerosas e com significado, oferece ao homem uma satisfação maravilhosa que o estimula a continuar desempenhando seus objetivos pessoais e intrapessoais, contribuindo significativamente com o aumento dos repertórios pessoais e profissionais. A proposta maior é deixar florescer a personalidade saudável diante do que existe frente às demandas da contemporaneidade.
Os traumas e a ansiedade, não poderão exercer forças suficientes diante de tantos desafios sociais, mas a coragem e o compromisso com espontaneidade de instrumentalizar características humanas positivas e estimular a alegria, esperança, prazer, fé, amor, sutileza e a espontaneidade. O homem é capaz disso, e isto poderá ser provado pelos caminhos das ciências cognitivas e positivas. 

3. Contribuições da Psicologia Positiva e Cognitiva

As contribuições da psicologia positiva e cognitiva, são significativas e oferecem uma postura teórica, prática no campo das relações humanas. Por ser uma teoria otimista e visualizar as características positivas humanas, ela retira a percepção de que se poderá compreender o homem, somente pelos aspectos psicopatológicos, como os transtornos da personalidade, dos ansiosos, dos psicológicos e psiquiátricos.
Para Seligman (2002), trata-se de aprimorar técnicas e procedimentos com a proposta de salientar as virtudes humanas, como também os aspectos positivos e valorizar as ciências sociais. O autor não contradiz a importância do Manual de Estatística e Diagnóstico das Desordens Mentais (DSM-IR), porque o mesmo, tem ajudado os profissionais a desenvolverem uma análise funcional dos comportamentos frente às psicopatologias facilitando os tratamentos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000). A proposta maior da psicologia positiva e cognitiva não é negligenciar o lado bom do homem em detrimento do lado ruim, mas entender que existe um universo de potencialidades afetivas e cognitivas articuladas ao ambiente de estímulo.
No entanto, conforme apontam Wright e Lopez (2002), a partir da tomada de consciência baseada no modelo de diagnóstico, verifica-se que todo o aparato de tratamento se baseia na tentativa do paciente se libertar das psicopatologias (doenças), mas existe um lado que poderia ser explorado com técnicas científicas para que o afloramento das virtudes sobreponha as limitações humanas, e essa é uma das propostas principais da psicologia positiva e cognitiva.
Peterson e Seligman (2004), através de seus estudos apresentam algumas características que se destacam em pessoas com tais virtudes: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperamento e transcendência.
Nota-se em depoimentos de psicoterapeutas que trabalham com a psicologia positiva, aliada ou não a outras modalidades de tratamento, que os resultados são altamente satisfatórios, assim também relatado pelos pacientes que vivenciam o processo psicoterapêutico.
Um dos principais benefícios é perceber que as pessoas que experimentam o processo psicoterapêutico aumentam as suas forças pessoais e interpessoais, reestruturando aspectos que não estavam acontecendo de forma assertiva e provocando sofrimento. Não se trata de descondicionar ou extinguir comportamentos, mas fortalecer estratégias clínicas para que as virtudes do homem sejam afloradas com sabedoria, administrando assim, os processos estressores do dia a dia. A força psíquica eleva o otimismo e a segurança, conduzindo-os as possibilidades de evolução no presente e no futuro. Isto remete-se ao que afirmava Ellis e Blau (1998), na importância da reestruturação cognitiva para a elaboração dos processos psíquicos.
Para Ellis e Blau (1998), o importante é o psicoterapeuta ajudar o paciente a entender que os pensamentos, emoções e comportamentos estão envolvidos de forma dinâmica na personalidade da pessoa. Para isso, o paradigma ABCD, que é representado da seguinte forma: A (estímulo que provoca algo), B (Interpretação baseadas nas crenças irracionais), C (Consequência da interpretação em B), D (Reestruturação Cognitiva, debate frente às consequências da interpretação), E (Mudanças Comportamentais).
A psicologia positiva aliada às psicoterapias cognitivas e comportamentais consegue facilitar para o paciente a condição de acreditar também no otimismo aprendido, mudando a capacidade de lidar com a frustração e as emoções negativas como a raiva, a ira, o nojo, o medo, a ansiedade e insegurança, mudando-se para as emoções positivas: a alegria, o amor, o carinho, a esperança e o otimismo.
Outro autor que se destaca na linha da psicologia positiva atribuindo foco nas virtudes é o pesquisador Pesechkian (1997). Ele desenvolveu um sistema em que as pessoas possuem capacidades para lidar com problemas, o que facilita o reconhecimento e o fortalecimento delas.
Ao apresentar a possibilidade de reestruturar a forma de pensar as virtudes ou os déficits comportamentais, o teórico Aaron Beck (2000) se destaca com a sua teoria “tríade cognitiva”. Nela os pacientes poderão se sentir beneficiados concomitantemente com a psicologia positiva, baseado em uma postura científica. Os principais elementos da teoria cognitiva, postulados por ele, são representados da seguinte forma:
- "Significado", refere-se à interpretação da pessoa sobre um determinado contexto e da relação daquele contexto com o self (eu).
- A função da atribuição de significado ativa estratégias para adaptação.
- As influências entre sistemas cognitivos e outros sistemas são interativas.
- Cada categoria de emoção, atenção, memória e comportamento são denominados especificidade do conteúdo cognitivo.
- Quando ocorre distorção cognitiva ou preconcepção, os significados são disfuncionais ou mal adaptativos.
- Os indivíduos são predispostos a fazer em construções cognitivas falhas específicas (distorções cognitivas).
- A psicopatologia resulta de significados negativos construídos em relação ao seu self, ao contexto ambiental (experiência), e ao futuro (objetivos), que juntos são denominados de tríade cognitiva.
Cada síndrome clínica tem significados mal adaptativos característicos associados com os componentes da tríade cognitiva. Todos os três componentes são interpretados negativamente na depressão. Na ansiedade, o self é visto como inadequado (devido a recursos deficientes), o contexto é considerado perigoso, e o futuro parece incerto. Na raiva e nos transtornos paranoides, o self é visto como sendo maltratado ou abusado pelos outros, e o mundo é visto como injusto e em oposição aos interesses da pessoa. A especificidade do conteúdo cognitivo está relacionada desta maneira a tríade cognitiva. Há dois níveis de significado:
(a) o significado público ou objetivo de um evento, que pode ter poucas implicações significativas para um indivíduo;
(b) o significado pessoal ou privado. O significado pessoal, ao contrário do significado público, inclui implicações, significação, ou generalizações extraídas da ocorrência do evento. O nível de significado pessoal corresponde ao conceito de "domínio pessoal". Neste ponto a psicologia positiva se apresenta de forma importantíssima estimulando as virtudes pessoais da pessoa, buscando sempre como foco, o significado que se atribui ao que se faz, pensa e sente. Assim também como a interação (engajamento) proporcionando sinergia no campo interpessoal, conduzindo a pessoa para uma realidade de prazer e felicidade que se estende para além do aqui e agora.
Portanto, a psicologia positiva e cognitiva, contribui com uma abordagem teórica, empírica e prática que pode ser instrumentalizada por psicoterapeutas de diferentes áreas a fim de mobilizar mudanças em seus clientes para o desenvolvimento saudável, se diferenciando de posturas antigas negativas.
Com esse novo paradigma teórico e prático, a comunidade científica está otimista com vistas ao um novo movimento revolucionário focado na autogestão científica diferenciada dos teóricos Rogers e Maslow por não terem desenvolvido investimentos teóricos e metodológicos, pois na psicologia cognitiva e positiva investiu-se e investe-se no inquérito sistemático e científico.
Não se pode ignorar a importância dos estudos relacionados às psicopatologias humanas, elas contribuíram grandemente para o diagnóstico e tratamento de doenças que eram consideradas intratáveis. A partir disso, surgiram abordagens diferenciadas de tratamentos, medicamentos e laboratórios farmacêuticos facilitando a melhora ou a cura definitiva de alguns transtornos ou doenças. 

Conclusão

Agora surgiu a oportunidade de focar-se também nas forças humanas, fundamentadas na capacidade de autogestão saudável, resiliente, assertiva e feliz. Portanto, a psicologia cognitiva e positiva, poderá auxiliar essa prática que está, por vários fatores, cada vez mais carente nos indivíduos. Não se deve deixar de acreditar em um indivíduo transformado para melhor, capaz de transcender a realidade imediatista contemporânea, vislumbrando uma postura pessoal digna, solidária e generosa.  Com isso, a sua verdadeira identidade irá se aflorar das trevas mentais e físicas, deixando-o fluir e evoluir os aspectos biopsicossociais de forma completa e saudável.

Referências: 

  1. BECK, A.T. & ALFORD, B.A. (2000). O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegre: Artmed.
  2. ELLIS, A., & BLAU, S. (1998). Rational emotive behavior therapy. Directions in Clinical and Counseling Psychology, 8, 41-56.
  3. MASLOW, A. (1954). Religions, values, and peak experiences. Columbus: Ohio State University Press.
  4. ROGERS, C. R. (1959). A theory of therapy, personality, and interpersonal relationships, as developed in the client-centered framework. In S. Koch (Ed.), Psychology: A study of a science: Formulations of the person and the social context (pp. 184-256). New York: McGraw-Hill.
  5. PETERSON, C., & SELIGMAN, M. (2004). Character strengths and virtues: A classification and handbook. Washington, DC: American Psychological Association.
  6. PESECHKIAN, N. (1997). Positive psychotherapy: Theory and practice of a new method. Berlin: Springer-Verlag. Lopez, S., Floyd, R., Ulven, J., & Snyder, C. (2000). Hope therapy: Helping clients build a house of hope. In C. R. Snyder (Ed.), Handbook of hope: heory, measures, and applications (pp. 123-166). San Diego: Academic Press.
  7. PETERSON, Christopher & Seligman, M.E.P. (2004). Character Strengths and Virtues A Handbook and Classification. Washington, D.C.: APA Press and Oxford University Press.
  8. SELIGMAN, M. (2003). Foreword: The past and future of positive psychology. In C. L. M. Keyes, & J. Haidt (Eds.), Flourishing: Positive psychology and the life well lived (pp. 11-20). Washington DC: American Psychological Association.
  9. SELIGMAN, M. (2002). Positive psychology, positive prevention, and positive therapy. In C. R. Snyder, & S. J. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology (pp. 3-9). New York: Oxford University Press
  10. SHELDON, K. M. e KING, L. (2001). Why positive psychology is necessary. "American Psychologist", 56(3), 216-217.
  11. WRIGHT, B., & LOPEZ, S. (2002). Widening the diagnostic focus: A case for including human strengths and environmental resources. In C.R. Snyder, & S.J. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology (pp. 26-44). New York: Oxford University Press.