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sábado, 29 de junho de 2019

PSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM

 Psicomotricidade como Facilitadora no Processo de Ensino e Aprendizagem na Educação Infantil

A Psicomotricidade como Facilitadora no Processo de Ensino e Aprendizagem na Educação Infantil
(Tempo de leitura: 14 - 27 minutos)
Resumo: A Psicomotricidade e o despertar da consciência da sua responsabilidade no mundo da educação infantil retratam, na sua ciência, o homem como seu objeto de estudo, através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de percepção, atuação, interação com o outro, com os objetos e seu estado comportamental consigo mesmo. Nota-se que a educação psicomotora é o começo do processo da educação infantil; sabe-se, também, que as dificuldades de aprendizagem detectadas em uma criança podem ter como causa um desenvolvimento psicomotor defasado. Desta forma, é necessário que seja colocado em pauta a importância da psicomotricidade na aprendizagem dos anos iniciais, buscando métodos lúdicos que promovem essa aprendizagem e o desenvolvimento em vários aspectos do ser humano, como o motor, o psicológico, o social e o afetivo. Vale ressaltar que a ludicidade deve ser promovida através das atividades psicomotoras, em um ambiente agradável e motivador. A brincadeira é um canal direto que a criança usa para exprimir seus desejos e emoções, sendo ferramenta muito válida durante as séries iniciais, período no qual a criança se vincula à sociedade.
Palavras-chave: Psicomotricidade, Criança, Desenvolvimento Psicomotor.

1. Introdução 

O artigo em questão irá ressaltar o trabalho da educação psicomotora com as crianças, deste modo, deverá prever a formação de base indispensável no desenvolvimento motorafetivo e psicológico, dando oportunidades para que por meio de jogos e atividades lúdicas, essa população se conscientize sobre seu corpo. Através dessas atividades lúdicas, a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor.
É importante que seja observado o fato de que as crianças aprendem de modo mais satisfatório e eficaz através de jogos e brincadeiras. O contexto lúdico é fundamental para a socialização do ser humano. Pelo jogo, há a construção de diferentes pontos de vista, elaboração de hipóteses e contextualização de espaço e tempo. O ato de brincar não pode ser visualizado como um ato de entretenimento, mas sim entendido como uma atividade que possibilita a aprendizagem de diversas habilidades, inserido em um ambiente motivador, aprazível e planejado para a educação infantil.
Ressalta-se que na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade, o que dela resulta, mas a própria ação, o momento vivido. Essa possibilita a quem vivencia, momentos de encontro consigo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, de ressignificação e percepção, momentos de autoconhecimento e conhecimento do outro, de cuidar de si e olhar para o outro, momentos de vida.
É inegável que a falta de um acompanhamento da psicomotricidade acarreta consequências danosas ao desenvolvimento da criança. Um dos casos que podem ser notados é a lateralidade pouco trabalhada no aluno. Isso pode causar problemas de ordem espacial, por exemplo; a utilização dos termos direita e esquerda fica prejudicada. O pequeno, apresenta certa dificuldade para acompanhar a direção gráfica de leitura e escrita. Outro problema, é o fato de a criança encontrar obstáculos quanto ao entendimento na distinção de letras específicas como b, entre vários transtornos que podem aparecer no período pré-escolar.
É necessário o dito, de que a atuação preventiva dos docentes, seja de extrema importância, tornando possível a diminuição do quantitativo de crianças com dificuldades na aprendizagem, o que minimiza os efeitos negativos que as disfunções psicomotoras possuem e favorecem o desenvolvimento global.

2. História da Psicomotricidade

Historicamente, o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário no início do século XIX nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica. Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. É justamente a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, o termo Psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico (SBP, 2003).
É importante ressaltar que a Psicomotricidade no Brasil foi norteada pela escola francesa. Durante as primeiras décadas do século XX, época da primeira guerra mundial, quando as mulheres adentraram firmemente no mercado formal enquanto suas crianças ficavam nas creches, a escola francesa também influenciou mundialmente a psiquiatria infantil, a psicologia e a pedagogia.
Em 1870, tentando caracterizar fenômenos patológicos, os médicos nomeiam as explicações de certos fenômenos clínicos, de psicomotricidade, porém, suas primeiras pesquisas têm enfoque neurológico. Em 1909, a figura de Dupré, neuropsiquiatra, é de fundamental importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora, antecedente do sintoma psicomotor, de um possível correlato neurológico. Neste período o tônus axial começava a ser estudado por André Thomas e Saint-Anné Dargassie.
Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano, dando uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo, e discursar sobre o tônus e o relaxamento. Em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame psicomotor para fins de diagnósticos, de indicação da terapêutica e de prognóstico.
Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particularidades. É ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Ajuriaguerra aproveitou os subsídios de Wallon em relação ao tônus, ao estudar o diálogo tônico. A relaxação psicotônica foi abordada por Giselle Soubiran (SBP, 2003) e (ISPE-GAE, 2007).
Mediante os estudos realizados a respeito da Psicomotricidade, evidencia-se várias definições para a Ciência em pauta. Assim, cada autor coloca o seu olhar para defini-la. A ISPE-GAE e a SBP definem, respectivamente, a Psicomotricidade e o emprego de seu termo como:
“Psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato motor harmônico. É a sintonia fina que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado. Psicomotricidade é a manifestação corporal do indivíduo de maneira visível. É uma ciência terapêutica adotada na Europa há mais de 60 anos, principalmente na França, que instituiu o primeiro curso universitário de Psicomotricidade em 1963 (ISPE-GAE, 2007).”
“A ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas (SBP, 1999).”
Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (SBP, 2003).
Com relação aos ditos acima referidos à conceituação da Psicomotricidade,  Fonseca (1995) afirma que a Psicomotricidade não é exclusiva de um novo método ou de uma  “escola” ou de uma “corrente’ de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano.
Para o estudioso, Nicola, uma conceituação atual da Psicomotricidade é que esta ciência nova, cujo objeto de estudo é o homem nas suas relações com o corpo em movimento, encontra sua aplicação prática em formas de atuação que configuram uma nova especialidade. A Psicomotricidade estuda o homem na sua unidade como pessoa (NICOLA, 2004, p. 5)

3. Metodologia

A metodologia é um caminho a ser percorrido durante a elaboração e a construção de uma pesquisa. A abordagem do problema é de ordem qualitativa, visto que se trata de pesquisa social e não aborda tratamento estatístico, e no entendimento de Richardson (1999, p. 80): “(...) os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação entre certas variáveis, compreender e classificar os processos dinâmicos vividos por grupos sociais (...)”.
Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, visto não se fazer uso de materiais de campo, ou pesquisa ação, apenas obras já conceituadas cientificamente, ou seja, material já elaborado. Confirmando, Gil (1999, p. 65):
“Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Parte dos estudos exploratórios podem ser definidos como pesquisas bibliográficas [...]”.
A pesquisa se classifica, pela sua natureza, como pesquisa pura, pois não se tem a intenção de aplicá-la, e segundo Gil (1999, p.43): “busca o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e consequências práticas (...)”.
Também se classifica a pesquisa como descritiva pelo fato de descrever a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil. Para Gil (1999, p.44), na pesquisa descritiva busca-se “juntamente com a exploratória, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. São também as mais solicitadas por organizações como instituições educacionais, empresas comerciais, partidos políticos etc”.
A pesquisa não deixa de ser exploratória, pois ao adentrar na opinião de tantos teóricos, faz-se exploração do conhecimento científico para produção da pesquisa. Segundo Gil (1999, p.43) a pesquisa exploratória “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos com hipóteses pesquisáveis”

4. Estrutura do Trabalho

Para a organização do artigo, o texto foi dividido em três seções. Na primeira, a introdução, que faz uma apresentação do tema abordado com breve explanação do mesmo, seguido do problema que conduziu esta pesquisa e dos objetivos propostos. Também apresenta a metodologia utilizada para sua realização e a delimitação, além desta estrutura.
Na segunda seção, o desenvolvimento, relata-se a fundamentação teórica, enfocando o que é psicomotricidade, as etapas do desenvolvimento infantil segundo principais autores e a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil. Na terceira e última seção, as considerações finais, onde se percebeu que com o desenvolvimento psicomotor é possível aumentar a capacidade motora, cognitiva e psíquica da criança.

5. A Importância da Psicomotricidade na Educação Infantil

Sabe-se que na educação infantil a prioridade é ajudar a criança a ter uma percepção adequada de si mesma, compreendendo suas possibilidades e limitações reais e ao mesmo tempo auxiliá-la a se expressar com maior liberdade, conquistando e aperfeiçoando novas competências motoras. Que desenvolver:
  • Habilidades motoras que levem a criança a aprender a conhecer o seu próprio corpo e a se movimentar livremente;
  • Habilidades motoras finas, através de diversas atividades que facilitam a escrita;
  • Possibilitar a exploração do mundo físico e o conhecimento do espaço que a cerca;
  • Facilitar a comunicação e a expressão das ideias.
  • Percepções rítmicas através de jogos corporais e danças.  
É de grande relevância o dito de que, a criança na escola precisa se sentir segura para que possa sentir possibilidades de se aventurar. Trazendo com isso, conhecimento acerca de si mesmo.
É de suma importância salientar que o movimento é a primeira manifestação na vida do ser humano. Pois desde a vida intrauterina realizamos movimentos com o nosso corpo, na qual vão se estruturando e exercendo enormes influências no comportamento.
Segundo Assunção & Coelho (1997, p.108) a psicomotricidade é a ” educação do movimento com atuação sobre o intelecto numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurológicas e psíquicas ”. Além disso possui uma dupla finalidade, “assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta as possibilidades da criança e ajudar a sua afetividade a se expandir e equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente humano“.
Os movimentos expressam o que sentimos, nossos pensamentos e atitudes que muitas vezes estão arquivados em nosso inconsciente. Através da ação sobre o meio físico com o meio social, processa-se o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano.
Portanto, a educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma experiência ativa, onde a criança se confronta com o meio. As educações provenientes dos pais e do âmbito escolar não tem a finalidade de ensinar a criança comportamento motores, mas sim permite exercer uma função de ajustamento individual ou em grupo.
As atividades desenvolvidas no grupo favorecem a integração e a socialização das crianças com o grupo, portanto, propiciam o desenvolvimento tanto psíquico como motor.

 6. A Psicomotricidade na Concepção Neuroeducacional

Conforme esclarece Luria (1981), por muitas décadas os psicólogos estudaram o curso dos processos mentais: de percepção e memória, de fala e pensamento, da organização de movimentos e ações. Daí o interesse científico no estudo do cérebro como o órgão da atividade mental.
Sabe-se que o cérebro humano, é o mais requintado dos instrumentos, capaz de refletir as complexidades e os emaranhamentos do mundo ao nosso redor. Segundo a autora, o estudo acurado desses fenômenos, no contexto das ciências comportamentais, forneceu informações de valor inestimável e revelou importantes pistas para o esclarecimento da natureza das leis científicas que governam esses processos.
Vale ressaltar, tendo como base os estudiosos citados no tópico anterior, que por muitos anos, atribuições ligadas à atividade humana, tal como a estrutura e a função dos processos psicológicos, além da percepção, memória, atividade intelectual, fala, movimento e a ação foram descritas e estudadas por inúmeras teorias psicológicas.
Tal abordagem tem se mostrado cada vez mais eficaz pelo simples fato de os especialistas nas áreas em questão reconhecerem que o aprendizado está ligado a determinados fatores. Falar dos aspectos psicomotores por meio da concepção neuroeducacional é enriquecer ainda mais os caminhos que visam ao desenvolvimento dos pequenos. Por conta dessa visão, a neuroeducação é definida como uma área de abordagem que trata da junção dos conhecimentos da Neurociência, da Educação e da Psicologia.
Pondo em pauta a importância da neurociência, convém enfatizar que a mesma está fundamentada no estudo sobre o sistema nervoso e todas as suas funcionalidades. Além disso, ela estuda as estruturas, os processos de desenvolvimento e alguma eventual alteração que possa surgir no decorrer da vida de uma pessoa. Em outras palavras, é como uma análise minuciosa sobre o que manda e desmanda em nossa vida.
Daí resulta-se um dos impactos da neuroeducação na vida de uma criança, é que em função dos progressos oferecidos por essa ciência, muitos indivíduos conseguem utilizar a autonomia. Desta forma, considerando o aspecto neuroeducacional, a Psicomotricidade ganha uma dimensão inegável pelo fato de sua atuação provir do sistema nervoso central. Ele é responsável pela criação de uma consciência no indivíduo acerca do meio de parâmetros como a velocidade, o tempo, o espaço e a percepção própria da pessoa.

7. A Psicomotricidade no Desenvolvimento Cognitivo

É de suma importância que seja colocado em pauta que o aspecto cognitivo está intimamente ligado ao psicomotor, o desenvolvimento da cognição na infância funciona como força motriz no oferecimento de todas as condições de uma vida saudável e independente à criança. Sendo interessante lembrar que a condição de uma pessoa favorece essa e outras assimilações, pois tal aspecto é responsável não só pelo papel social a que a criança está sujeita, mas a outros pontos fundamentais ao seu desenvolvimento.
A discussão da Psicomotricidade está se tornando comum no meio escolar, em especial no âmbito pedagógico. Estimular as crianças com ações visando desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo, faz parte da educação infantil e o professor pode oferecer inúmeras possibilidades para o desenvolvimento integral da criança. Com esta visão, a psicomotricidade tem a intenção de enxergar o ser humano de uma maneira total, levando sempre em consideração a pessoa e suas habilidades como um vasto campo a ser explorado.
Gonçalves (2010, p.87), afirma que “O corpo como porta de entrada e saída da aprendizagem, utiliza-se da psicomotricidade para expor toda a transcedência de sua experiência.”
O bom exercício docente proporcionará à criança oportunidades de estabelecer equilíbrio quanto às suas capacidades psicológicas, emocionais e motoras em relação ao mundo. Protegida em um ambiente de supervisão e orientação, a criança formará bases para encarar o crescimento de maneira saudável e pronta para assimilar com o corpo, a mente e as emoções às mudanças de fase da vida.
Fonseca (1995), fala da Psicomotricidade como resultado da experiência individual da criança, explicitando ainda que é necessário que a criança simbolize seu corpo, de uma expressão semiótica a seu corpo. Esta simbolização do corpo em si e no envolvimento, é vital para a aprendizagem humana e essencial para a evolução cognitiva da criança.
Piaget (1975) em seus estudos, procura demonstrar que na construção do conhecimento infantil a experiência através da ação é fundamental, assim o desenvolvimento cognitivo está dividido em dois planos; o primeiro, sensório-motor, forma-se nos primeiros anos da criança e ocorre durante toda a sua vida. E o segundo, representativo, inicia-se a partir do primeiro e se desenvolve paralelamente a ele desde os sete anos. É a interação entre estes dois planos que possibilitará a sistematização do conhecimento.
Segundo Coll (2010), os pais, os educadores e as próprias crianças devem compartilhar uma visão positiva do ser humano e de suas possibilidades. Encontrar sentido para a vida, sentir-se em um mundo acolhedor e acompanhado por seres humanos que têm recursos que lhes permitam também ser pró-sociais e inclusive, em determinadas situações, altruístas. Tudo isso é muito importante para sentir-se querido e aceito, para fazer o esforço de descobrir os melhores recursos próprios, mentais e emocionais, e pô-los à disposição da colaboração e da ajuda.

8. A Importância do Desenvolvimento Psicomotor Para a Aprendizagem na Educação Infantil

É importante ressaltar que o desenvolvimento psicomotor é um processo contínuo e dinâmico, e em permanente evolução em degraus sucessivos logo desde o nascimento. É fundamental para a Educação Infantil não esquecer que cada criança possui suas particularidades. Segundo Barreto, Melo e Silva, o maior desafio da Educação Infantil e dos profissionais é compreender, conhecer e reconhecer que cada criança possui a sua subjetividade, seu jeito único de ser e estar no mundo. É preciso considerar que as crianças são diferentes uma das outras e que cada uma tem um tempo diferente de aprendizagem.
Vale ressaltar que no processo de desenvolvimento psicomotor, a criança é vista em sua totalidade, ou seja, não separa o ser intelectual do emocional e racional, sempre considerando suas habilidades como um campo a ser desenvolvido de modo prazeroso e significativo. Para que esse processo ocorra de forma adequada, é crucial considerar e respeitar a subjetividade de cada criança.
A estimulação do desenvolvimento psicomotor é fundamental para que aconteça a interação dos movimentos com a emoção e a cognição do indivíduo. Para que essa estimulação ocorra de forma adequada é fundamental que a criança disponha de um bom ambiente e de facilitadores para auxiliar no desenvolvimento das capacidades psicomotoras.
É sabido que nem sempre sendo notada, a psicomotricidade se encontra nos gestos mais simples e em todas as atividades que desenvolve a parte motora, tendo como objetivo o conhecimento e domínio pela criança, do próprio corpo. Nesse sentido, a psicomotricidade passa a ser um fator indispensável para o desenvolvimento geral e a aprendizagem da criança. Segundo Alves (2012), o processo de aprendizagem na Educação Infantil tem como base a educação psicomotora, por isso, a raiz dos problemas de aprendizagem, na maioria dos casos, está na base do desenvolvimento psicomotor.
Sobre as fases do desenvolvimento psicomotor, Silva (2010) diz que não devem ser consideradas somente como uma maturação neurológica, sim, como um processo relacional. Levando em consideração as relações do indivíduo com o ambiente em que está inserido e as relações com os demais. As fases do corpo podem ser resumidas em três fase até chegar a perfeição; primeiro o corpo é percebido; em segundo, é conhecido; e, finalmente, é vivido.
É de suma importância que seja pautada a escala do desenvolvimento psicomotor ressaltando as principais características de cada fase dos 2 aos 4 anos, segundo Fonseca (2009):
  • Aos 2 anos: nesta fase a criança chuta uma bola, explora intencionalidade os brinquedos, faz traços horizontais, utiliza frases de pelo menos quatro palavras, consegue abrir uma porta, e/ou gaveta, ajuda ativamente a se vestir ou a se despir, consegue juntar brinquedos de encaixe, imita movimentos verticais e horizontais.
  • Aos 3 anos: nota-se que nesta fase prevalece na criança a vontade de se afirmar, geralmente nesta fase a criança expressa interesse em atividades em que é solicitada que faça desenhos, brinca com outras crianças e já assumem papéis na brincadeira; apresenta uma melhor percepção do espaço, equilibra-se em um pé e na ponta dos pés por um pequeno período de tempo, controla-se em equilíbrio com os olhos fechados, coordena a marcha e a corrida, demonstra o domínio da coordenação motora grossa.
  • Aos 4 anos: percebe-se nesta fase que a criança já consegue desenvolver atividades como segurar o lápis na posição correta e pedalar; demonstra interesse pelos sentimentos das pessoas que estão ao seu redor, como por exemplo, perceber que sua mãe está triste e tentar confortá-la; consegue fazer desenhos do corpo, de casas, apresenta noção em relação ao corpo, sobe e desce escadas alternadamente, sabe seu nome completo, sexo, idade, e, em alguns casos o endereço; sabe esperar a sua vez.
Para Fonseca (2009), nos primeiros anos de vida a criança é compreendida por meio dos gestos, os movimentos constituem grande parte das expressões de suas necessidades até o movimento em que a linguagem começa a ser constituída.

9. A Relação entre Psicomotricidade e Desenvolvimento Infantil

desenvolvimento é um processo ativo, dinâmico e interativo, que vai acontecendo no desenrolar da vida. Como visto nos três conhecimentos básicos, a criança, no processo de desenvolvimento, passa pelas três etapas que são, o movimento, o intelecto e o afeto. A partir de cada um deles observa-se a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil (Fonseca, 2009).

10. Educação Psicomotora

A educação física é extremamente importante no desenvolvimento psicomotor da criança. É através dela que as mesmas irão demonstrar suas habilidades e dificuldades corporais. A educação física é pautada nas necessidades da criança. Desse modo, entende-se que o desenvolvimento da criança acontece através dos três conhecimentos básicos, sendo o movimento o primeiro meio de comunicação da criança. É a partir desses conhecimentos que a criança toma consciência de si mesma, passando a conhecer seu corpo, compreendendo assim a importância de se expressar e compreender o outro (Fonseca, 2009).
A educação física escolar tem como objetivo principal incentivar os movimentos corporais buscando compreender as diversas etapas da vida. A educação psicomotora bem desenvolvida pode detectar possíveis dificuldades, em relação à concentração, coordenação, dificuldades de aprendizagem. As habilidades da criança bem desenvolvidas possibilitam que estas aprendam melhor ou que possam ser detectadas com antecedência problemas como citados acima, colaborando assim para intervir-los (Fonseca, 2009).
O esquema corporal da criança deixa de ser limitado, tornando-a mais perceptiva ao ambiente. Entende-se por esquema corporal o ritmo, o tempo e o espaço da criança (Rosa Neto, 2002).
Tanto o afeto, quanto o intelecto é desenvolvido a partir do movimento – atividade física – que possibilita esse desenvolvimento. É necessário que a criança tenha uma boa coordenação motora para iniciar seu processo de escrita, assim como para a leitura é necessário que consiga concentrar-se. Portanto, a educação psicomotora no ensino infantil exerce um papel fundamental em toda a vida do indivíduo.
“É a educação um fato social tão antigo quanto o próprio homem, devendo ter sido praticada desde que apareceu na terra a primeira família humana. Coincide, assim, o início da história da educação com o da história da humanidade” (BELLO, 1978 p. 9).

11. O Desenvolvimento, a Adaptação Social e o Equilíbrio Afetivo

É preciso estar atento para o fato de que o desenvolvimento infantil vai ser determinado pela própria vida da criança, ou seja, quanto mais oportunidades a criança tem de desenvolver suas capacidades, maiores serão as chance de se apropriarem da cultura em que estão inseridas (ARIOLI, 2007).
Os primeiros anos de vida são de grande importância para o desenvolvimento, nesse momento é fundamental que a criança pertença a um ambiente favorável para seu desenvolvimento e que disponha de estímulos. Segundo Arioli (2007), o desenvolvimento psíquico da criança se inicia com sua inserção no mundo que é mediado pelos adultos, e especialmente por parte dos pais, elas sofrem a forte influência das condições sócio-históricas, culturais, econômicas e políticas do local onde irão se desenvolver.
Do ponto de vista afetivo, o mais importante é que as crianças tenham uma boa história de apego e uma adequada rede de relações sociais que não faltem os amigos, isso ultrapassa as possibilidades da escola, porém esta, na medida do possível, deve favorecer a segurança emocional, promover o compromisso dos pais com a educação dos filhos e favorecer as relações com os iguais.
Existe um fator afetivo extremamente importante que pode fortalecer-se não apenas pela educação incidental, mas também pela educação formal. Trata-se da empatia ou da capacidade de colocar-se no lugar do outro, de compartilhar seus sentimentos e de estar emocionalmente inclinado à cooperação e à ajuda.
É importante ressaltar que as habilidades sociais em seus diferentes conteúdos, especialmente aqueles referentes às relações interpessoais, à promoção da conduta pós-social e ao controle das condutas agressivas, oferecem a possibilidade de melhorar o próprio bem-estar pessoal e social, trabalhar melhor em grupo e relacionar-se melhor com os professores e alunos.

12. A Influência da Psicomotricidade na Aprendizagem

O desempenho motor da criança está intrinsecamente ligado à aprendizagem. As habilidades motoras de recorte, colagem, escrita e o desenvolvimento do intelecto requerem conhecimento do próprio corpo. Se houverem estímulos realizados de forma a abranger todas as áreas do corpo, certamente o desenvolvimento psicomotor se dará plenamente, contribuindo de forma satisfatória para a aprendizagem.
“Se eu tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um único princípio, diria isto: O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece. Descubra o que ele sabe e baseie nisso seus ensinamentos (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980).”
Ausubel, Novak e Hanesian (1980), nos remetem a aprendizagem significativa, para que ela ocorra é necessário que a criança tenha uma atitude positiva para aprender de modo significativo, ou seja, tenha predisposição para aprender. É importante que a criança relacione material novo aos materiais disponíveis em sua estrutura cognitiva. Ao teorizar a aprendizagem significativa, observa-se a importância da motivação para aprender. A motivação é um fator subjetivo, mas pode ser potencializada através de estímulos adequados.
A aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o ser aprendente. Por isso, é importante que a aprendizagem possa ser significativa, esta por sua vez, nos remete a psicomotricidade, que se bem desenvolvida na criança pode gerar níveis de aprendizagem satisfatório, ou se não bem estimuladas, causar consequências (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980).
Para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial da criança, é necessário que ela estabeleça relação direta com o meio e com aquilo que está aprendendo. Para isso, é importante a estimulação. Portanto, é de suma importância que o professor conheça as crianças e o processo de aprendizagem e possa se interessar por elas como seres humanos sensíveis que estão se transformando, e mais que isso, que são únicos no seu desenvolvimento.

Considerações Finais

Partindo das conclusões comentadas nos itens anteriores, vale ressaltar a participação do educador no cotidiano da criança, pois este possui um papel importante no processo de aprendizagem, devendo respeitar e compreender a subjetividade de cada criança, bem como o ambiente em que está inserida e objetivar uma boa estimulação do desenvolvimento psicomotor.
É fundamental que o educador faça uso das práticas psicomotoras de forma adequada na elaboração das atividades, saindo da educação tradicional e investindo mais em uma educação que proporcione aos professores informações e formações sobre a psicomotricidade no âmbito escolar e dessa forma, oferecer possibilidades de elaborar um trabalho voltado para as necessidades das crianças.
Observa-se com nitidez que o foco principal deste trabalho foi de explicitar como é importante que as crianças tenham oportunidades de vivenciar situações positivas no âmbito escolar, em especial nas séries iniciais, e assim passem a conhecer e confiar em seu próprio corpo e no seu desenvolvimento global, evitando ao máximo que elas passem por experiência que a desvalorizem, mas, sim proporcionem a descoberta das suas habilidades e os melhores meios para aprender aquilo que lhe for proposto.
Por fim, é através da educação infantil que a criança poderá expandir seus movimentos corporais, explorando seus sentimentos, seu corpo. Cabe à escola conscientizar os profissionais da educação infantil do valor da psicomotricidade, pois esta passa a ser um fator indispensável para o desenvolvimento geral e a aprendizagem da criança, desse modo, devem ser reconhecidas através de pequena avaliação, dificuldades psicomotoras que não foram trabalhadas, possibilitando assim o desenvolvimento integral do aluno. O professor deve estar sempre preocupado de trazer atividades corporais para dentro da sala de aula, proporcionado cada vez mais experiência para seus alunos, favorecendo a psicomotricidade fina, auxiliando os alunos de ritmo normal e de aprendizagem lenta a vencer os obstáculos, os desafios da leitura e da escola.

Sobre o Autor:

Liliane Teles Guapindaia - Discente do Curso de Especialização em Psicomotricidade da Faculdade Campos Eliseos

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