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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O CONCEITO DE CONHECIMENTO E A ÉTICA DO "SANTO GOOGLE"

O CONCEITO DE CONHECIMENTO E A ÉTICA DO "SANTO GOOGLE"

By: VMC

Na busca do saber o sujeito pode adquirir informações empiricamente, aprendendo a fazer sem compreender o nexo causal que dá origem ao fenômeno. Pode ter um conhecimento por experiência como, por exemplo, o modo de dirigir um automóvel sem que tenha a compreensão do processo mecânico que sua ação desencadeia. Pode ainda aceitar, por um comportamento de fé, um ensinamento que lhe é transmitido sem nenhuma consciência de seu conteúdo como é o caso das superstições. Aquele que toma uma cápsula de remédio, acreditando curar a sua doença com tal procedimento, não tem, na maioria das vezes, nenhum conhecimento

da relação da substância contida na pílula com o seu mal-estar. Não se pode, nesses casos, falar em conhecimento propriamente dito ou, pelo menos, em conhecimento científico.

Pode-se entender como sabedoria a adequada hierarquização dos valores para a promoção da dignidade humana, o domínio do conhecimento científico e tecnológico de seu tempo, ou a vivência do respeito e da justiça que permitem um melhor desempenho social. São inúmeras as definições de ciência. Desde a mais sucinta, que a entende como o conhecimento sistematizado das causas do fenômeno, até as mais elaboradas, como a de Baremblitt (1978, p. 16), que diz: “ser

uma ciência um sistema de apropriação cognoscitiva do real e de transformação regulada desse real, a partir da definição que a teoria da ciência faz de seu objeto”. Afirma Japiassu (1977, p. 15) que: “É considerado saber, hoje em dia, todo um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente organizados, susceptíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico de ensino”. Empregam-se aí os conceitos de aquisição e de transmissão, mas não o de construção.

Há, evidentemente, uma pluralidade de discursos científicos e, inúmeras maneiras de se fazer ciência. Cada saber científico tem seu próprio estatuto de cientificidade que deve ser considerado pelo aprendiz. É ainda Japiassu (1978, p. 98), que volta a afirmar: A ciência se define por um discurso crítico, pois exerce controle vigilante sobre seus procedimentos utilizando critérios precisos de validação. A área científica é, ao mesmo tempo, reflexiva e prospectiva. Os pressupostos de uma ciência são justamente as idéias, os critérios e os princípios que ela emprega

na sua efetuação. Essas afirmações levam à reflexão quando se analisa o conceito de construção do conhecimento. Quais as exigências e os sentidos dessa noção de “construção”?

O novo conceito de ciência inicia-se com Kant (1957) com a afirmação de ser a ciência “construída” pelo homem por meio dos juízos sintéticos a priori, contrapondo- se à concepção proveniente do empirismo da apreensão pela experiência, do conhecimento científico captado da própria natureza. Kant vai entender a ciência como constructo humano por meio dos juízos sintéticos a priori. Com Jean Piaget (2002) iniciam-se as pesquisas de psicologia genética que deram origem ao chamado construtivismo – Interacionismo Genético que tinha como objetivo estudar o processo da constituição do conhecimento humano. Não acreditando em inteligência inata, considera que a gênese da razão, da afetividade e da moral, faz-se progressivamente em estágios sucessivos em que é organizado o pensamento lógico, a capacidade de julgamento e a vida moral.

O conhecimento humano inicia-se na primeira infância quando a criança, por imitação repete os gestos, as expressões faciais e as palavras dos adultos com quem convive. Constitui-se um conhecimento empírico, ligado ao fazer em que pouco se conceitua e muito se apreende pela experiência, pelo senso comum. É uma modalidade de conhecimento altamente influenciada pelo imaginário social, marcada pelo preconceito e pelas interpretações ideológicas. Com o início do pensamento lógico começam as buscas de relações causais, de simultaneidade, de contigüidade [...]. Os conceitos de substância e de acidentes, de classificação e de ordenamento. Inicia-se a estruturação de um corpo de idéias que vai constituir o conteúdo dos diversos saberes. À medida que o sujeito atinge o nível de desenvolvimento necessário para a compreensão com a ajuda de elementos externos, o outro, o livro, o professor, a TV, a Internet apropriam-se do novo saber organizando- o a seu modo. De acordo com as inúmeras concepções filosóficas e epistemológicas varia o entendimento sobre o processo de produção do saber. Algumas características desse processo são, no entanto, universalmente aceitas nos dias atuais: - a provisoriedade dos saberes científicos.

Não mais se aceita o conhecimento como um processo cumulativo. Há, na ciência, uma revisão constante decorrente da possibilidade de novos pontos de vista. O mesmo objeto pode ser analisado de diferentes ângulos, o que leva não a um relativismo, mas à constatação da relatividade do conhecimento; - a interferência do imaginário na produção do conhecimento pela via da cosmovisão e da ideologia. Admitindo-se como cosmovisão a visão de mundo do sujeito cognoscente pela sua posição histórico-geográfico, cultural e econômica e a ideologia como orientação originária do imaginário que determina os papéis e as funções sociais, percebe-se a interferência desses dois fatores na produção do conhecimento. - a impossibilidade de neutralidade axiológica. Não sendo possível a neutralidade e a imparcialidade na constituição dos saberes, há sempre uma interferência dos valores aceitos pelo sujeito na produção do conhecimento. Embora Piaget (1977, p. 17) considere ser “a inteligência um sistema de operações vivas e atuantes de natureza adaptativa” e afirme que o essencial do pensamento lógico é ser operativo com o fim da constituição de sistemas, não descarta a interferência da afetividade no processo do conhecimento. Reafirma a existência de um paralelo constante entre a vida afetiva e a vida intelectual, considerando-as como dois fatores indissociáveis e complementares em toda a conduta humana. Tais considerações trazem, senão dificuldades, pelo menos maior exigência de

reflexão sobre a noção de construção de conhecimento. Nos “Seis Estudos de Psicologia” (PIAGET, 1978, p. 15) mostra que “os interesses de uma criança dependem, portanto, a cada momento, do conjunto de noções adquiridas e de suas disposições afetivas já que tendem a completá-los em sentido de melhor equilíbrio”. Como ligar a exigência da ação à de equilíbrio?

Qual será exatamente o sentido do termo ação? manuseio, ação espontânea ou ato exercido de modo consciente e livre? Diz ele (PIAGET, 1978, p. 140) ainda: “o equilíbrio não é qualquer coisa de passivo, mas, ao contrário, alguma coisa essencialmente ativa. É preciso, então, uma atividade tanto maior quanto maior for o equilíbrio [...]. Portanto, equilíbrio é sinônimo de atividade”. Refere-se ainda ao interesse como essencial a todo ato de assimilação mental. Quando nosso mestre Piaget pensava nessa teoria, jamais poderia imaginar que nos dias atuais existiria mecanismos tão sofisticados quanto sites de busca onde o estudante e/ou curioso poderá encontrar absolutamente tudo que procurar. Se parássemos por aqui, diríamos que estamos vivendo a era do conhecimento amplamente democratizado o que para qualquer educador seria a maravilha concretizada em todo o seus esforço para disseminar o conhecimento.

Porém quando Piaget entendia como interesse do educando a expressão do ato de assimilação como incorporação de um objeto à atividade do sujeito, ou seja, o conhecimento ocorre quando o seu objeto traduz-se na atividade do sujeito. No seu pensar, as estruturas lógicas somente se constituem quando ocorrem ações exercidas sobre os objetos, ou seja, a fonte das operações lógicas é sempre e apenas a própria ação. Tais afirmações parecem permitir entender o seu conceito de ação como estado mental de atividade, de interesse podendo-se mesmo encontrar uma relação com a noção de intencionalidade de Husserl em que o sujeito busca e assim interfere no objeto do conhecimento. Com o advento do "Santo Google" essa ação limita-se em três teclas do computador. (Ctrl+Alt+C).

De qualquer modo, ainda nos “Seis estudos de Psicologia” (PIAGET, 1978, p. 15), mostra que as teorias correntes do desenvolvimento, da gênese, na psicologia da inteligência invocam três fatores, seja um a um, seja simultaneamente: - a maturação, portanto um fator interno estrutural mas hereditário; - a influência do meio físico, da experiência ou do exercício e - a transmissão social. O aprendizado, a construção do conhecimento, exige, portanto, um estado de atividade da parte do sujeito sem que isso signifique ausência de ensino, de transmissão social.

Diante de tantas "facilidades" acredito que o conceito de conhecimento sofreu um grave golpe capaz até de ressignificá-lo de modo tão simplificado que todos os nossos esforços enquanto educadores em formar outros educadores para atuar nessa nova geração de aprendizes " internetizados" forçará a todos nos uma profunda reflexão sobre metodologias, disciplina em sala de aula,avaliações, ética profissional entre outras. Apenas para refletir, gostaria de deixar aqui alguns QUESTIONAMENTOS: Como o professor universitário deve agir, diante de uma turma com 80% de alunos com seus respectivos celulares e Notebooks conectados à internet livre fornecida pelas Instituições? Como avaliar um trabalho de pesquisa solicitado aos alunos, que vem com a marca www.pesquisafacil.com.br.? Como os mestres e doutores devem avaliar uma monografia? Quais os critérios para validar uma tese de doutorado quando o "santo Google" oferece teses prontas de mestrado e doutorado com garantia de aprovação incluindo na tabela de preços: MM custa XR$; MS custa X+Y$ e, SS ou 10 custa XYZ$.? Enfim, o que vamos ensinar aos nossos futuros educadores? Qual será a ética educacional para o próximo século? Está lançado o desafio!.


A DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA O TERCEIRO MILÊNIO: INOVAR O QUE? PARA QUÊ? QUEM SERÁ BENEFICIADO?

A DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA O TERCEIRO MILÊNIO: INOVAR O QUE? PARA QUÊ? QUEM SERÁ BENEFICIADO?

Vera Maria de Carvalho- Uniceub/2005

Nietzche defendeu a idéia de que todo o comportamento humano é motivado pela busca do poder. No sentido positivo, a busca do poder não é simplesmente ter poder sobre outros, mas poder sobre si-mesmo. É esse o poder que todos proclamam e, que grande parte dos educadores pressupõem possuí-lo quando assumem a postura e o status de professor. Ele tinha razão quanto a motivação. Apenas enganou-se quanto a situação. Creio que para que o poder só tem sentido se for embasado na: criatividade, flexibilidade, originalidade , humildade e sinceridade. Tais poderes são manifestados num “super-homem” um, “super-professor”, capaz de desenvolver uma independência, teórica, uma criatividade pedagógica e, acima de tudo, uma originalidade ideológica capaz de superar todas as barreiras metodológicas até então apresentadas. Nossos refenciais teóricos ainda estão embasados nos primórdios da filosofia onde se propunha uma intervensão metodológica mas não se tinha um referencial concreto que pudesse sustentar tais teorias.

É nesse sentido que o Pai da Didática, o grande educador Comenius, teve que enfrentar um grandes desafios culturais, sociológicos, filosóficos, semânticos eantropológicos à época. Seu grande mérito foi, provar que criança deve ser tratada como criança e, jamais como um adulto em miniatura. Independentemente de credos, a historia nos mostra que os grandes Didáticos da humanidade sobrevivem até hoje, apesar de todas as inovações tecnológicas que podemos desfrutar atualmente. Dentre os grandes gênios que a humanidade produziu, Nesse sentido, Nietzsche teve como “modelos” o próprio Sócrates, Jesus, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Shakespeare, Gothe, Júlio César, Napoleão que, a meu ver, foram os grandes didáticos da humanidade atual. Cada um a seu tempo, a seu modo, em seu contexto histórico, continuam a nos ensinar a simplicidade de ver e viver a vida, enfim, o conceito de super-homem e ou super-mulher que freqüentemente é interpretado como uma declaração de “sociedade mestre-escravo”, infelizmente associada com o totalitarismo.

Qual o sentido da Didática?

Se concebermos a didática como uma ciência. Claro que exigiria uma mudança de paradigma. Teríamos que ampliar o conceito cartesiano de ciência para concerbermos uma postura holística. Assim, compreenderíamos a Didática como uma ciência dimensionada para o humano. Nesse sentido, A Didática se propõe a judar no processo de educação do Homem. Toda e qualquer ciência, seja ela exata, humana ou teleológica, só tem valor quando se propõe a oferecer ao Homem possibilidades para melhor realizar e viver a vida.

Nesse sentido, a Didática é a própria capacidade que o ser humano desenvolve para sobreviver às intempéres. Afinal ela só terá sentido se for para melhorar a qualidade de vida do ser humano, independentemente do contexto em que este estiver inserido. A premissa é válida para todos as demais ciências. Considerando que o Homem é o ser que busca a possibilidade de desfrutar da vida com toda a plenitude, um ser que, com toda a ansiedade, angústias, dilemas, dicotomias de valores, princípios e culturas, deseja viver plenamente. Vivemos a feliz angústia do querer viver da melhor forma possível, do querer ser alguém junto a alguém, enfim, do querer ser feliz!

A grande meta do Homem é ter uma vida feliz; nisso, todos somos unânimes! para conquistar essa felicidade, o ser humano se empenha com todas as suas forças. Todos sabemos que a vida não nos é dada como uma dádiva. Temos que passar por um processo que exige esforço, trabalho, labutas e, até mesmo sofrimentos. Mas, o viver do Homem não é um simples estar batalhar para se manter vivo, num estado vegetativo. O homem é um ser nasceu para modificar, transformar, conquistas e realizar um projeto de vida. É um ser que não se satisfaz com a sobrevivência meramente fisiológica. Este ser vai além do ‘agora” . Este ser transcende todas as expectativas biofisiológicas das outras espécies. O ser humano não é passível de limites.

Nesse sentido, a pessoa se torna cada vez mais pessoa à medida que toma consciência da sua própria existência, da sua realidade e do seu contexto sócio-histórico. Sempre que a pessoa tenta libertar-se através da busca o universo pessoal, com autenticidade e liberdade, com espírito aberto e crítico, ela se despoja de todas as banalidades que possam, eventualmente limitá-la. O ser humano quer vencer a dor, superar as dificuldades que o impedem de se realizar seus objetivos. O homem busca, através das ciências, as respostas para os problemas existenciais. É capaz de realizar esforços inimagináveis para superar as dificuldades e atingir suas metas. Desse potencial que é a vocação do Ser Humano. Todos os Humanos são capazes de superar, inventar, criar, descobrir, fazer, sempre em busca do que é essencial: a Vida. A qualidade de vida. É nesse sentido que a educação realmente se propõe a ajudar o Homem a viver bem a própria vida e, em contrapartida, realizar experiências concretas para que sua comunidade, sociedade, enfim, a humanidade possa se beneficiar disso.

Não será ainda a nossa educação “um massacre dos inocentes que desconhece a personalidade da criança como tal, impondo-lhe um resumo das perspectivas do adulto, as desigualdades sociais forjadas pelos adultos, substituindo o discernimento dos caracteres e das vocações pelo formalismo autoritário do saber”?

Parece que nossa educação destrói personalidades, destruindo a alegria e a felicidade que deve ser o ato de aprender. Nosso ensino impede o palpitar dos corações pela imposição de conhecimentos que muitas vezes, não tocam a alma do educando, mas simplesmente o cérebro e o intelecto. Na educação e no ensino, o objetivo fundamental é o encontro da felicidade e não somente a aquisição de conhecimentos; se eles não tornarem a pessoa feliz; o objetivo não será outro senão, a deformação. O ensino não pode se limitar à aquisição passiva e artificial de conhecimentos que não servem de respostas às experiências diárias. Todos os conhecimentos assimilados devem ser educativos e formadores de personalidades, respondendo às necessidades e urgências da pessoa, fornecendo-lhe as melhores condições para o crescimento pessoal. Separar o ato educativo do ato de ensinar seria fazer uma cisão muito profunda na formação. Seria finalmente, querer separar o intelecto das emoções e sentimentos. Isto é totalmente impossível.