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segunda-feira, 29 de julho de 2019

Velhice e Qualidade de Vida em Idosos Institucionalizados


Velhice e Qualidade de Vida em Idosos Institucionalizados
(Tempo de leitura: 15 - 29 minutos)

Resumo: O presente artigo busca analisar a perspectiva da qualidade de vida dos idosos que residem em instituições de longa permanência (ILPI), principalmente pelo fato desse grupo de pessoas estarem aumentando. A um grande desafio nos dias de hoje, quando as pessoas idosas são inseridas nas instituições de longa permanência, de enfrentar, superar, adaptar, viver em outra cultura, costumes e regras diferentes do seu contexto cultural. Tendo como realidade, mesmo, que as instituições tenham que seguir as exigências por Lei, ainda está longe de atingir as probabilidades que se espera para receber e cuidar com todo amparo e suporte que o idoso internalizado necessita. Procuramos mostrar que apesar das dificuldades desses indivíduos, de serem conservadores e resistentes sua adaptação não é impossível, a maioria dos idosos passam a gostar e se adaptam muito bem a instituição, pois, passam a não se sentirem tão sozinhos e encontram nesse ambiente o que havia perdido, e criando novos vínculos que contribuem numa forma melhor de viver nessa etapa da vida. Para análise desta problemática foi feito pesquisa bibliográfica, na internet e livros referentes o tema.
Palavras-chave: Envelhecimento, Qualidade de Vida, Instituição de Longa Permanência.

1. Introdução

A população de idosos institucionalizados vem aumentando constantemente, não só no Brasil, mas no mundo todo vem se observando essa tendência de envelhecimento nos últimos anos, isso se da pela mortalidade ter reduzido e pela melhora da qualidade de vida, porém, a sociedade ainda é pouco informada sobre essa etapa da vida.
Mesmo que as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) no Brasil estejam distantes do padrão estabelecido, as mesmas estão procurando a se adequar às normas e regulamentos que a Lei determina. As instituições colaboram por uma grande parte significativa de acolher aquelas pessoas idosas que são por muitas vezes desamparadas pelas suas famílias naturais, por vontade própria do indivíduo de morar na instituição, e outros motivos que levam eles a serem incluídos no grupo de idosos internalizados.
No primeiro instante foi apresentado como é a inserção e a vivência do idoso nesse ambiente. Isso acontece num contexto totalmente distinto de sua cultura e de seus costumes, uma realidade onde o sujeito sofre um impacto que por vezes terá que superar, se adequando a esse novo lar. No entanto, a instituição se dispõe de um local favorável e adequado, contando com equipes de profissionais que farão o processo de receber, cuidar e adaptar esse grupo de idosos internalizados.
Nesse contexto, o indivíduo aprende a ter novos hábitos, como horários de banho, lazer, alimentação, medicação e atividades que possam melhorar a sua interação, o bem-estar físico, emocional e social, de forma a contribuir de forma positiva para uma vida participativa e bem-sucedida em todos os contextos relacionais. O idoso também recebe atendimento médico, alimento, higiene e segurança, favorecendo um envelhecimento mais bem-sucedido.
Todas as pessoas almejam chegar na terceira idade usufruindo de uma boa qualidade de vida, mas, a realidade mostra que a pessoa ao chegar nessa etapa se depara com as adversidades inerentes a essa fase: além da perda do vigor físico, o emocional também acaba por ser comprometido. Por falta de informação, preparo e outros fatores, a institucionalização de idosos acaba sendo vista como uma saída necessária para os familiares que escolhem não ter mais a responsabilidade de cuidar de seus entes queridos nesse momento tão vulnerável.

2. Envelhecimento

envelhecer humano já se inicia desde o seu nascimento, tendo em vista que o indivíduo não percebe esse fato irreversível, da necessidade de buscar um envelhecer mais saudável e ativo.
envelhecimento é, sem dúvida, um processo biológico cujas alterações determinam mudanças estruturais no corpo e, em decorrência, modificam suas funções. Porém, se envelhecer é inerente a todo ser vivo, no caso do homem esse processo assume dimensões que ultrapassam o “simples” ciclo biológico, pois pode acarretar, também, consequências sociais e psicológicas. (OKUMA, 2004, p.13).
A velhice é uma etapa onde o indivíduo fica um pouco mais vulnerável e com algumas limitações, devido o envelhecer do corpo. De acordo com Zimerman (2000, p.22) “o que venha a ser velho? A velhice não é uma doença, mas, sim uma fase na qual o ser humano fica mais suscetível a doenças. [...] e, quando adoecem, demoram mais tempo para se recuperar”.
Estar velho não significa ser incapaz, mas é um processo que deve ser percebido e executado com mais cuidado pelo fato da pessoa perder o vigor físico e limitar-se a certas atividades inerentes a essa fase. “[...] é uma etapa muito delicada, que pode vir repleta de obstáculos e novas experiências”, pois não consegue identificar o porquê das transformações ao seu redor e também de seu corpo e sua mente (MELO; MELO, 2014, p.38).
O preconceito com relação à velhice está também assentado na visão que o velho tem de si mesmo; paradoxalmente, o velho que viver mais, mas tem medo da velhice (Melo; Melo, p.38, 2014) e da morte, pois com a chegada da idade, consequentemente o corpo fica mais debilitado e sujeito a doenças.
Temos, nas falas de Marques (2004, p. 66), as definições do termo idoso: 
[...] em substituição do termo velho, agrega novas visibilidades e positividades. O termo velho é ainda carregado de um sentido pejorativo historicamente ligado a ideias negativas como feio e mau que aparecem nas histórias infantis (bruxas e madrastas), ou como ser improdutivo, inativo, criado pela sociedade moderna. 
O conceito de idoso se difere entre etnias, assim como da época no qual está inserida. A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu que a idade mínima há serem considerados idosos os indivíduos acima de 60 anos residentes em países em desenvolvimento e em países desenvolvidos a partir de 65 anos (OMS, 2005).
Um idoso pode desempenhar papéis diferentes na sociedade, isso em geral vai depender da cultura, do poder econômico e social. Exemplo disso temos as sociedades orientais, onde “são geralmente valorizados e respeitados - suas opiniões têm peso significativo nas decisões da família [...] já nos esquimós é diferente: quando envelhecem funcionalmente [...] procuram se isolar voluntariamente e morrer longe da família” (VARELLA, 2009, p.07).
A população dos países da América Latina como o Brasil, os considerados idosos, são desprezados, discriminados e excluídos, cultivados por uma sociedade em que apenas os jovens têm capacidades e os excluindo da vida cotidiana. Como afirma Varella (2009, p.07) “o adjetivo “velho”, quando referente a pessoas, é depreciativo, sinônimo de gente ultrapassada e desinteressante”.
Entretanto, como afirma Mascaro (p.35, 1997) “em nossos dias, uma pessoa de 60 anos, saudável, interessada na vida, produtiva, pode ser considerada velha? [...] quantas pessoas aos 40 anos ou 50 anos já estão desgastadas, doentes, e parecem tão velhas?”, então algumas particularidades não podem ser atribuídas apenas à idade, mas sobretudo com a genética e a conduta perante à sua vida.
Minayo e Coimbra (2002, p.14), destacam que “cada pessoa vivencia essa fase da vida de uma forma, considerando sua história particular e todos os aspectos estruturais a ela relacionados, como saúde, educação e condições econômicas” que não serão sempre semelhantes.
No Brasil foi criado em 1º de Outubro de 2003 o Estatuto do Idoso, sob a Lei Federal 10.741, que ordena a família, a comunidade, a sociedade e o Poder Público garantir ao idoso “o efetivo direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”, embora o cotidiano de muitas pessoas idosas nos mostra uma outra verdade (BRASIL, 2017, p.44).
A expectativa média de vida está aumentando em todo o mundo com o decorrer do tempo. No Brasil, a estimativa até o ano de 2025 está para o 6º no ranking mundial em número de idosos (OMS, 2005).
Com o crescimento acelerado da população idosa brasileira, infelizmente o que ocorre é que ainda não se atribuiu a legítima importância desta massa, com reformas e adequações em instituições sociais que são vitais ao atendimento dos mesmos.
Pode-se assim dizer que “ser velho não é o contrário de ser jovem. Envelhecer é simplesmente passar para uma nova etapa da vida, que deve ser vivida da maneira mais positiva, saudável e feliz possível”, sendo necessário conceder tal importância a eles como de fato concedemos a outras fases da vida (ZIMERMAN, 2000, p.28).
Devemos ao menos considerar que é “importante para conviver com o processo de envelhecimento aceitá-lo como condição existencial, entendendo que só envelhece quem teve o privilégio de viver todas as fases e de não morrer quando criança ou quando jovem (MELO; MELO, 2014, p.33). 

3. Qualidade de Vida

A saúde e a qualidade de vida dos idosos, sofre uma interferência de diferentes causas cognitivas, biológicas, sociais e culturais. Desta maneira, ao analisar e oportunizar a saúde do idoso tem sentido que julgamos variáveis e notáveis em uma ação interdisciplinar e multidisciplinar. As seguintes considerações da Organização Mundial de Saúde corroboram este contexto:
“A qualidade de vida é a percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, seu estado psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação com características proeminentes no ambiente” (OMS, 1994).
“À medida que um indivíduo envelhece, sua qualidade de vida é fortemente determinada por sua habilidade de manter autonomia e independência” (OMS, 2005, p. 14). 
O lazer relacionado a atividades físicas e psíquicas está relativamente associado em benefício da qualidade de vida, onde o fator fundamental é ofertar uma convivência social, positiva, íntima e segura. Em todos os países, e especialmente nos países em desenvolvimento, medidas para ajudar pessoas mais velhas a se manterem saudáveis e ativas são uma necessidade, não um luxo (OMS, 2005, p.08).
Segundo a afirmação de idosos “os indicadores de qualidade de vida por eles apontados como mais significativos apresentam os seguintes itens: saúde, relacionamento familiar, suporte afetivo, renda satisfatória, participação e reconhecimento social”, visto quando são ofertados a eles a presença nas rotinas diárias, proporcionando um bem estar e satisfação com a própria vida e com o sentimento de ser importante (VALENÇA; NETO; ZENATI, 2008 p.39).
Infere-se, assim, que o termo qualidade de vida engloba o conceito amplo de bem-estar, mas isso depende do autojulgamento do próprio indivíduo, ou seja, o quanto ele está ou não satisfeito com a qualidade subjetiva de sua vida. É um conceito subjetivo que depende de padrões históricos, culturais, sociais e até mesmo individuais. A avaliação da qualidade de vida de determinado indivíduo varia em função das três dimensões nas quais o sujeito encontra-se inserido: física, psicológica e social (MIRANDA; BANHATO, 2005, s/p). 
Os fatores que mais comprometem a qualidade de vida são a saúde comprometida, perdas afetivas, sensação de inutilidade, ausência de suporte familiar e renda insatisfatória (VALENÇA; NETO; ZENATI, 2008, p.43).
A perda de vínculos, as dificuldades econômicas e a urgente necessidade de adaptação a uma nova condição surgem como determinantes da situação em que se encontram (VALENÇA; NETO; ZENATI, 2008, p.50).
Segundo Park (2003, p. 71) para que o idoso disponha de uma boa qualidade de vida é necessário que tenha consciência as seguintes orientações:
[...] correr como criança (pela importância da atividade física e da brincadeira propriamente dita); comer como um índio (comer menos e alimentar-se de produtos o mais natural possível); descansar como um gato (deitar, esticar e ao levantar-se fazer um alongamento como fazem os gatos); ter a persistência de um camelo (manter seus compromissos consigo mesmo da atividade física e da dieta); ter a alegria de um golfinho (não posso afirmar que a alegria aumente a esperança de vida, mas que o mau-humor diminui, é certo); ter a independência de um pássaro (depender o mínimo possível dos outros); ter a solidariedade de um cão (ser solidário sempre); E por último, fugir da sombra, fugir da escuridão. (Não ficar apático, escondido, achando que a vida quem vive são os outros. É preciso voltar para o palco e viver a vida de maneira brilhante).
O idoso tem que olhar a velhice de uma forma diferente, não somente com a chegada de rugas, a perda de habilidades, dependência ou doenças; que agora não é momento de descansar, e sim de serem inseridos em atividades físicas e sociais.
É importante que os familiares e cuidadores exerçam a capacidade de observar a linguagem não-verbal, os gestos; prestar atenção no que o idoso fala, dar oportunidade para que ele participe das atividades da casa e da família, dentro dos seus limites (VALENÇA; NETO; ZENATI, 2008, p.43).

3. Envelhecimento Ativo: Conceito e Fundamento

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas (OMS, 2005). A promoção do envelhecimento ativo supõe a prevenção de doenças e da incapacidade, além da maximização do bem-estar e da qualidade de vida na velhice (JACOB; FERNANDES, 2011 apud CRAMÊS, 2012, p. 27).
É importante destacar que a população de idosos está crescendo em consequência da queda da taxa de fecundidade e também pelo aumento da longevidade dos idosos (MENDES et al., 2005). No Brasil, os idosos, indivíduos com 60 anos de idade ou mais, correspondem a 8,6% da população total (cerca de 14 milhões de pessoas). Este número poderá ultrapassar nos próximos 25 anos, a marca dos 30 milhões de pessoas (IBGE, 2009).
Estas transformações demográficas originam fortes desafios a serem enfrentados pelas políticas públicas, exigindo assim um maior preparo dos órgãos responsáveis (BÁRRIOS; FERNANDES, 2014).
Apesar dos desafios gerados, os idosos são fundamentais na sociedade. Contribuem com seus conhecimentos, sua cultura e seus costumes com o orçamento familiar e fazem parte do desenvolvimento da sociedade e do país (BRASIL, 2005). Por isto, é de suma importância que esta população continue a ser ativa na sociedade.  Assim, as questões sociais com enfoque nos idosos são essenciais para os mesmos sentirem-se parte da sociedade (MENDES et al., 2005).
O fortalecimento de vínculos familiares, de amizade, de lazer e sociais é capaz de possibilitar uma maior inserção dos idosos na comunidade, promovendo assim, mudanças na vida cotidiana, como busca de melhoria da qualidade de vida. Por isto, na atualidade, se considera a prática das atividades físicas como uma das maiores conquistas da saúde pública, que contribui para uma boa disposição física e mental destes indivíduos (FERREIRA et al., 2012).
Em estudo sobre o envelhecimento ativo, os pesquisados relataram visão favorável e desfavorável sobre o processo de envelhecimento. A visão favorável apareceu vinculada ao envelhecimento ativo, às atividades domésticas e ao lazer. Quando não estava associado à palavra ativo, o envelhecimento foi representado como sinônimo de perdas e de incapacidades (FERREIRA et al., 2010).
Manter os idosos independentes funcionalmente é o primeiro passo para se atingir uma melhor qualidade de vida. Para tanto, é necessário elaborar ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação, que interfiram diretamente na manutenção da capacidade funcional destes idosos (FERREIRA et al., 2012).
psicologia também apresenta importante papel na manutenção da capacidade funcional destes idosos. Por isto, no campo da psicologia deve haver uma busca por estratégias que garantam a promoção da saúde e a atenção às especificidades da população mais velha (RIBEIRO, 2015). Por isto, para a prática da Psicologia, é exigido, por parte dos profissionais da área, um domínio de conhecimentos específicos (BATISTONI, 2009). Neste contexto, preceitos teóricos e práticas baseadas na psicologia do envelhecimento podem contribuir para o enfrentamento dos desafios na atenção em saúde do idoso (RIBEIRO, 2015).
Manter os idosos funcionalmente independentes é um dever de todos. Para tanto, é necessária a elaboração de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação que interfiram diretamente na manutenção da capacidade funcional dos idosos (FERREIRA et al., 2010).
Assim, pode-se garantir à população um processo de envelhecimento com qualidade, englobando o bem-estar físico e emocional, aumentando a expectativa de uma vida saudável. 

4. Sexualidade na Terceira Idade

A sexualidade do idoso é cercada por certos tabus e preconceitos, sendo uma das áreas que ainda desperta acentuada polêmica.
Devemos considerar que a sexualidade faz parte da constituição humana e com isso corresponde uma necessidade fisiológica e emocional. Sua manifestação é determinada pela maturação orgânica e mental, expressando-se de forma diferente nos estágios do desenvolvimento humano. Infelizmente, os idosos da nossa sociedade são privados de manifestar sua sexualidade. Por isso precisamos pensar e debater sobre esse tema, contribuindo assim para uma sociedade mais justa (Antunes et al. 2010 apud Domizio; Calefano, 2014). 
Grande parte dos idosos acreditam que estimulam a sua sexualidade, no entanto, eles identificam a família e religião como fatores inibitórios (UCHÔA et al., 2016). Estes vêem-se presos aos julgamentos familiares e estabelecem uma relação de submissão a sua família. Eles não vivem de forma plena e livre sua sexualidade. Ficando assim, evidente como a cultura opressiva da sociedade e da família, interfere a vivenciar a sexualidade em sua plenitude (Souza et al., 2015).
            A expressão sexual regular contribui para um bem-estar físico e psicológico e pode contribuir para a diminuição de problemas físicos e mentais associados ao envelhecimento. O desejo sexual não desaparece com o passar dos anos e o idoso pode disfrutar da vida sexual desde que este não se altere. As relações sexuais estão associadas a uma melhor qualidade das relações íntimas, a uma menor taxa de sintomas depressivos, a um aumento da autoestima, a uma melhoria da saúde, cardiovascular, entre outros [...] (SENRA 2013, p.17).
O amor, respeito e carinho são apontados pelos idosos, como elementos centrais que estruturam e organizam a representação social da sexualidade na terceira idade. O sexo, portanto, não representa o aspecto mais importante para o idoso (Queiroz et al., 2015). Mas, valem destacar que é possível atingir a velhice de forma saudável, expressando o amor e a sexualidade, elementos por vezes negligenciados pelos próprios idosos (ALMEIDA; LOURENÇO, 2007, et al. 1982).

5. A Família na Vida do Idoso

Sabemos que em qualquer idade a família é considerada, social e culturalmente, a base de vida de uma pessoa. Hoje em dia, após as transformações sociais e culturais que percebemos ao longo do tempo, sabemos que esse conceito de família se mantém válido, entretanto, foi profundamente transformado. O sentido de família para o idoso é de um espaço de proteção, aconchego, segurança, sugerindo a expectativa de amparo (DEZAN, 2015).
Os idosos nos dias de hoje nasceram em épocas em que haviam diferentes valores culturais; épocas em que as pessoas mais velhas exerciam um importante papel. Nos dias atuais, há uma mudança no perfil social da família, descaracterizando a valorização do cuidar do idoso. “[...] é uma construção social influenciada pela cultura e contexto histórico, sendo uma instituição importante para a organização humana na sociedade” (MEDEIROS, 2012).
Acompanhar o idoso, no seio familiar, é uma experiência que acarreta fortes sentimentos de gratificação para as pessoas que mantêm um vínculo afetivo forte com este, nomeadamente, a família e outras pessoas significativas que têm a oportunidade de desempenhar um papel fundamental no apoio ao seu ente querido.
A construção do afeto, a ajuda mútua e a compreensão são aspectos essenciais para um convívio fortalecido e agradável entre o idoso e a família. Contudo, se a convivência entre ambos apresentar turbulências, podem ocorrer desentendimentos e desgaste no relacionamento [...]. Portanto o idoso por ter reduzida flexibilidade a mudanças tem dificuldades na sua adaptação a essa nova realidade de coabitar no mesmo ambiente com pessoas de geração distintas, [...] (Berlezi; Scheuer, 2008 apud BENTES; PEDROSO; MACIEL, 2012).
Portanto, a representação familiar na vida do idoso é o suporte principal para que o indivíduo experiencie sua velhice com melhor qualidade de vida, e que seja reconhecido como alguém importante na sociedade e digno de todos os direitos que o ampara.

6. Uma Moradia Digna para os Idosos

A moradia é um fator essencial na vida do indivíduo, para que outras necessidades sejam supridas com menos dificuldades.  Sendo assim, a pessoa idosa necessita de um lar que seja adequado, que ampare a sua condição de viver na fase da velhice. O estatuto do idoso deixa claro quanto aos direito dos idosos.
Segundo Brasil (2018, p. 23) Art. 37: o idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou [...].
Os idosos são inseridos nos lares ou abrigos por diversos motivos, mas são seus próprios filhos, em sua maioria, que determinam essa condição. Talvez, a circunstância de levar ou não um idoso para viver em um asilo pode ser a oportunidade de compreender significados mais profundos, muitas vezes esquecidos pela comodidade de não querer significar sentimentos que nos trazem desconforto e que parece não ter jamais um bom fim.
O autor relata que viver em instituição é uma possibilidade para o idoso encontrar amparo, que muitas das vezes fora desse contexto está desamparado.
De acordo com Camarano (apud CAVALCANTI, 2013, p. 161), viver em uma instituição pode ser apresentar como uma alternativa de apoio, bem como de proteção e segurança. Para tanto, é importante que haja uma mudança de percepção com relação à moradia. As garantias de direitos a um envelhecimento saudável vieram de conquistas da própria categoria dos idosos que, junto à constituição de 1988 (constituição cidadã), tiveram voz para desencadear diversas leis e políticas exclusivas para essa população, inclusive na garantia da qualidade dos serviços prestados nas instituições de longa permanência.
Culpar a família pela institucionalização do idoso não interfere positivamente em nada, nem contribui para uma melhor relação favorável entre ambas partes. Segundo Medeiros (2012, p. 445), nem sempre a família consegue exercer essa função ou cumprir com essa responsabilidade, e podem ocorrer situações de abandono e/ou asilamento.

7. Violência Contra Idosos

Dentro de vários contextos estão presentes diversas formas de violência contra a pessoa idosa, ou seja, no âmbito intrafamiliar, no meio social, nas instituições de longa permanência. A falta de valorização e respeito ao sujeito ou grupo de pessoas idosas têm contribuído para má qualidade de vida desses indivíduos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define violência contra o idoso como um ato único ou repetitivo ou mesmo a omissão, podendo ser tanto intencional como involuntária, que cause dano, sofrimento ou angústia. A mesma pode ser praticada dentro ou fora do ambiente doméstico por algum membro da família ou ainda por pessoas que exerçam uma relação de poder sobre a pessoa idosa (OLIVEIRA et al., 2013).
A violência contra a pessoa idosa não é só uma realidade na sociedade brasileira, mas, que acomete de maneira global. Conforme Minayo (2005, p. 16), “a violência contra idosos é um fenômeno de notificação recente no mundo e no Brasil”. Demanda assim, a necessidade do comprometimento da sociedade, dos órgãos públicos, da conscientização do valor humano, da preservação dos conhecimentos adquiridos pelos mais velhos para as futuras gerações, e o rompimento da desigualdade que se faz a um sujeito por estar vivendo a etapa da velhice.
A sociedade está inovando constantemente e instantaneamente surgem coisas novas, ideologias, projetos novos, e aquilo que hoje é novidade amanhã já deixa de ser, cedendo lugar para o que surge no momento. “[...] a pessoa vale o quanto produz e o quanto ganha, e por isso, os mais velhos, fora do mercado de trabalho e quase sempre, ganhando uma pequena aposentadoria, podem ser descartados [...]” (MINAYO, 2005, p. 05).
Nas instituições de longa permanência (ILPI), a violência torna-se, muitas vezes, mais aparente devido ao maior distanciamento afetivo, à impessoalidade dos cuidados e a um regime disciplinar demasiado apertado e rígido (HESPANHA, 2008). Nota-se a falta de preparo e suporte que conscientize profissionais e cuidadores a lidar com mais humanidade com esse grupo de pessoas internalizadas.

8. Adaptação Arquitetônica 

No Brasil, as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPs) estão bem distantes do que seria, em tese, um lugar preparado para receber, acolher e dar suporte para o grupo de pessoas internalizadas. Segundo Vinagre (2016, p.6), “para entender a relação do homem com o ambiente, arquitetos e designers precisam entender os aspectos físicos e psicológicos do indivíduo que ocupará o espaço”.
As ILPs não se baseiam somente em favorecer alimento, dar um teto ou auxiliar nos horários corretos de cada idoso tomar seus remédios, mas, proporcionar um ambiente limpo, seguro, adequado, com profissionais qualificados e preparados, visando a melhoria na qualidade de vida desses idosos. [...] Para o público da terceira idade, devem compor não só as redes de assistência e de saúde, mas também a de habitação, fazendo parte da infraestrutura da cidade (VINAGRE, 2016, p.1-2).
Locais que propiciam suporte, condições seguras de locomoção para o público de idosos, certamente acrescentam no bem-estar da vida dessas pessoas. Segundo Avelino et al. (2015), “residências adaptadas certamente contribuirão para uma melhor qualidade de vida da pessoa idosa, que poderá circular [...] uma moradia final, como instituições [...].”
É necessário que as instituições de longa permanência atendam todos os requisitos em relação à infraestrutura previstos no regulamento técnico da RDC ANVISA nº 283/200, possibilitando a melhor locomoção, propiciando um ambiente agradável e um local seguro, no intuito de amenizar e evitar os vários acidentes que os idosos estão vulneráveis a acometimentos. Conforme Avelino et al. (2015), “pessoas de todas as idades sofrem quedas diariamente, porém, ela são mais graves no indivíduo idoso, pois suas consequências podem levá-lo incapacidade e até a morte”.

9. Considerações Finais

O referido artigo foi de suma importância para compreensão de como se dá o processo do envelhecimento humano e como é a qualidade de vida nas instituições de longa permanência. Perante a isto, as Instituições de Longa Permanência tornam-se uma opção para assistência a idosos que se encontram numa situação de dependência. Ressaltando que os idosos residentes em instituições não têm capacidade ativa para a vida diária, sendo, portanto, necessárias alternativas de lazer adaptadas para esse grupo de pessoas. 
Sendo assim, esse público necessita que sejam oferecidas melhores condições de vida, no intuito de minimizar suas dificuldades de dependência física, mental, social e entre outros. Este quadro de dependência pode vir sobrecarregar as famílias, já que a maioria delas encontram-se cada vez menores e envolvidas em atividades profissionais fora do domicílio, ou a institucionalização pode se dar  pela própria escolha do indivíduo.
Portanto, uma das dificuldades principais do idoso é a adequação ao novo lar pelo fato da distinção de valores, costumes, culturas e regras que o indivíduo terá que se adaptar nesse novo ambiente.
É possível envelhecer e ter uma melhor qualidade de vida na terceira idade. Cabe ao indivíduo buscar para si satisfações positivas, considerando o seu bem estar físico e psicológico, e ter relações de contentamento no meio social.
Assim, espera-se que este artigo possa contribuir no conhecimento e informação no meio acadêmico e para a sociedade sobre o público de idosos institucionalizados.

Referências:

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AVELINO, M. S. C., ARAUJO, S. M. M. P., TERTULINO, C. V. M., & MACHADO, A. K. C. Adaptações em residências para idosos: necessidade de preparo e discussão: congresso internacional de envelhecimento humano. 21 a 26 de setembro de 2015. Disponível em: < https://editorarealize.com.br/revistas/cieh/trabalhos/TRABALHO_EV040_MD4_SA15_ID2710_07092015212140.pdf >. Acesso em 14 de setembro. 2018. 
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BENTES, Ana Claudia de Oliveira; PEDROSO, Janari da Silva; MACIEL, Carlos Alberto Batista. O idoso nas instituições de longa permanência: uma revisão bibliográfica. 2012.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Básica à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
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CRAMÊS, Maria Luísa Ribeiro. Envelhecimento Activo no Idoso Institucionalizado. 2012. Disponível em: < https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/7645/1/M_Lu%C3%ADsa_Cram%C3%AAs_relatorio_final%20alterado.pdf >. Acesso em 23 set. 2018
DEZAN, S. D. O envelhecimento na Contemporaneidade: reflexões sobre o cuidado em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos. 2015. São Paulo
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domingo, 21 de julho de 2019

Psicologia Escolar

Histórico, Características e Práticas do Psicólogo no Contexto da Psicologia Escolar


Histórico, Características e Práticas do Psicólogo no Contexto da Psicologia Escolar
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Resumo: Antes de entrar na história e no contexto da Psicologia Escolar, se faz necessário um entendimento da diferença que existe entre essa e a PsicologiaEducacional que se complementam, mas possuem características que as tornam específicas. Para tanto se recorre ao que apresenta Antunes (2008) A natureza dessa relação se expressa, pelo menos, em duas dimensões: a psicologia educacional como um dos fundamentos científicos da educação e da prática pedagógica e a psicologia escolar como modalidade de atuação profissional que tem no processo de escolarização seu campo de ação, com foco na escola e nas relações que aí se estabelecem). A busca pela literatura ocorreu em dois momentos: antes da entrevista através de fontes de confiabilidade educacional – scielo, bvs psi; revistas e livros da área da Psicologia Escolar e pós entrevista uma busca da literatura referenciada pela profissional. Entende-se que a valorização do psicólogo escolar, ainda existe como aquele tabu de que ele seja um ser que resolve tudo, e que perdura o valor mágico do psicólogo. Enquanto profissional o psicólogo deve valorizar outra forma de atuar na escola e mostrar perante a sociedade que qual a melhor atuação para resolução de conflitos e melhorias no rendimento escolar.
Palavras-chave: Psicologia Escolar, Psicologia Educacional, Escolas.

Introdução

As diferentes abordagens da Psicologia perpassam os conteúdos das disciplinas na fase inicial do curso e despertam uma curiosidade imensa. Esse sentimento é muitas vezes reforçado pelo testemunho de cada docente que tem buscado contextualizar a literatura e as práticas, com histórias fundamentadas em casos reais.
Nessa busca é possível cortejar o que está disposto nas diversas obras apresentadas, e as falas, muitas vezes polêmicas, dos que ministram as disciplinas. Conhecer os diferentes olhares através da disciplina Ciência e Profissão foi essencial nesse processo formativo e tem se apresentado especialmente enriquecedor por apresentar as abordagens a partir da sua origem.
O trabalho em foco tem o intuito de aprofundar sobre a Psicologia Escolar e para tal contou com a colaboração da Profª Dra. Lorrana Caliope Castelo Branco Mourão que cedeu entrevista gravada (CD) em 24 de maio de 2016, no espaço da UNILEÃO, em sala do  Serviço de Psicologia Aplicada – SPA, com duração de aproximadamente 25 minutos. Significativa fração desse tempo foi usada discutindo a importância da Psicologia Educacional sendo que o segundo bloco para a parte específica da Gestalt.
A busca pela literatura ocorreu em dois momentos: antes da entrevista através de fontes de confiabilidade educacional – scielo, bvs psi; revistas e livros da área da Psicologia Escolar e pós entrevista, uma busca da literatura referenciada pela profissional.
Para efeitos didáticos o desenvolvimento do trabalho inicia-se fazendo um breve histórico da área da Psicologia Escolar evidenciando seu ingresso e movimento nessas instituições e observando as contribuições de Antunes (2008), Barbosa e Marinho-Araújo (2010) e legislação pertinente da educação. Em seguida é feita uma abordagem das características dessa área, trazendo as observações de Dadico e Souza (2010), Costa, Souza e Roncaglio (2003) e as premissas abordadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Essa parte se finaliza com as anotações sobre a prática do psicólogo no contexto escolar, que usa uma base de Bock, Furtado e Teixeira (2008), Ausubel (1963), Yamamoto et al. (2013) Freire (1996) e Patto (1981).
Destarte, cabe ressaltar a participação especial da entrevistada com suas contribuições e sugestões para novas leituras e aprofundamentos.    

Histórico da Área da Psicologia Escolar                        

Antes de entrar na história e no contexto da Psicologia Escolar, se faz necessário um entendimento da diferença que existe entre essa e a Psicologia Educacional, que se complementam, mas possuem características que as tornam específicas. Para tanto, recorre-se ao que apresenta Antunes (2008, p. 12):
A natureza dessa relação se expressa, pelo menos, em duas dimensões: a psicologia educacional como um dos fundamentos científicos da educação e da prática pedagógica e a psicologia escolar como modalidade de atuação profissional que tem no processo de escolarização seu campo de ação, com foco na escola e nas relações que aí se estabelecem.
Os primeiros laboratórios de psicologia no Brasil datam do final do século XIX para o início do século XX e estudavam principalmente os problemas de aprendizagem em crianças destacando uma influência norte-americana e francesa. As práticas escolares no cenário brasileiro serviram para ressignificação do movimento da psicologia escolar e da atuação dos psicólogos, principalmente a partir da década de 1990 (BARBOSA; MARINHO-ARAÚJO, 2010).
A psicologia escolar aparece com diferentes focos e mais voltada para a clínica, no destaque da medicina que buscava cura para os problemas, o que de certa forma inviabilizaria seu desenvolvimento, posto que não teria estrutura para tal modelo se desenvolver.
No início da psicologia escolar no Brasil, evidenciou-se o caráter clínico e terapêutico das intervenções realizadas; vale destacar, nesse sentido, o livro de Franco, datado do ano de 1915 e intitulado “Noções de pedagogia experimental”, que, além de trazer reflexões sobre as capacidades mentais elementares, apresentava definições de retardatários escolares e comentários acerca da educação especial de deficientes visuais e auditivos sem consonância com estudos de Binet, Simon e Pestalozzi (PFROMM NETTO, 2001, apud BARBOSA; MARINHO-ARAÚJO, 2010, p. 394).
Considerando a área da educação, as Leis de Diretrizes e Bases definem desde os princípios e fins da educação nacional, a toda organização dos sistemas e redes. Destaca-se que o contexto político, social e econômico é definidor das práticas que devem ficar vigentes. O exemplo dessa definição toma-se a LDB 5692 de 1971, que amplia consideravelmente o acesso das camadas populares às escolas, quando tornou a escolaridade obrigatória e gratuita.
Com esse universo ampliado, os problemas também assumiram dimensões que fugiam do controle das escolas. A psicologia entra na escola como uma necessidade para enfrentar os desafios que os professores e pedagogos não conseguiam solucionar, porém, o modelo executado não respondeu a contento por aplicar um olhar mais clínico e serviu em muitos casos, tão somente para justificar o fracasso escolar. Esse período não foi fácil para firmar um entendimento entre a psicologia e a educação, e segundo Barbosa e Marinho-Araújo (2010, p. 395):
Esse período se caracterizou pela produção de reflexões e pesquisas que evidenciavam os entraves causados por concepções remediativas e circunstanciais aplicadas ao processo educativo, além de repercussões que originaram desestabilização e insegurança na atuação em psicologia escolar, uma vez que os procedimentos convencionais não mais respondiam com eficácia às demandas do contexto.
A criação da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) foi determinante para a melhoria nessa área e originou-se a partir das discussões que aconteceram nas décadas de 1980 e 1990, no qual se desenhava também a nova LDB que foi promulgada em 1996 com significativa participação da sociedade.
Com a ABRAPEE muitas discussões foram promovidas no sentido de eliminar práticas discriminatórias e promover uma mudança positiva na relação do psicólogo que atua em âmbito escolar. Desde o início desse século é perceptível o avanço da discussão teórica acerca da atuação do psicólogo escolar e segundo Barbosa e Marinho-Araújo (2010, p. 396) “(...) dentre os temas contemplados estão a atuação institucional, a participação do psicólogo escolar na formação de professores e na elaboração do projeto político pedagógico da escola e experiências de estágios baseadas em metodologias de pesquisa-ação”.
Em primeiro plano é visto a necessidade do ser humano em relação com a psicologia escolar, mostra-se a questão da humanização, ou seja, a parte que o indivíduo não nasce com ele, mas ele se forma ao decorrer do tempo, também há duas características que se enquadram nesse contexto: a forma de historicidade e sociabilidade; ambas têm uma contribuição para a área. A parte social que é integrada na sociedade faz parte de um dos mecanismos utilizados no termo escolar. Ademais, a cultura se encaixa nele, gerando assim nos indivíduos que compõem a sociedade, uma forma de desenvolvimento em relação ao todo; o conhecimento se tornou algo fundamental.
A psicologia escolar é muito importante para o ser humano, pois ela abrange muitos conhecimentos que se tornam voltados para a área do conhecimento, sendo essa área sistematizada e a junção de vários saberem em um só, tendo relação com o psicológico do processo de educação.
O objetivo da psicologia escolar é perceber os aspectos que compõem a escola e como se fundamenta a forma de organização da tal instituição, como o ensino é transmitido aos alunos (se está sendo passado correto), como também a parte de motivação dos indivíduos em relação à formação do seu aprendizado, que é de fundamental importância. Além disso, a questão dos funcionários que contribuem para tudo acontecer, dessa forma, outro ponto que ganha destaque é o fato de que os psicólogos escolares que tem a preocupação com alguns alunos detentores de problemas e dificuldade de aprender poderem diagnosticar o caso e propor intervenções.
Não se podem esquecer os problemas emocionais que algumas crianças sofrem em casa e passam para a escola, necessitando de auxílio, conversar e poder entender e ajudar, como também crianças que possuem algum problema mental ou comportamental que também necessitam de um acompanhamento pela psicóloga da gestão da educação.
Enfim, nota-se a grande participação que o psicólogo escolar tem nas escolas, a sua responsabilidade, sem deixar de mencionar que ele é essencial para o indivíduo para as questões escolares. O auxílio que ele dá para o desenvolvimento da sua aprendizagem no decorrer dos anos, como também para o seu pensamento crescer mais maduro e como uma visão de um todo.
A história da psicologia escolar pode ser percebida desde os tempos coloniais, quando começou a surgir um lado preocupante na parte da educação, pois traz em sua parte mais larga questões psicológicas. Está em processo de desenvolvimento e faz a interface entre psicologia e educação. As ideias psicológicas na educação deram espaços às discussões sobre a criança e o seu processo educativo, porque abriram diálogos para a aprendizagem, desenvolvimento, ensino, dentre outros. Segundo Antunes (2008, p. 470):
No século XIX, idéias psicológicas articuladas à educação foram também produzidas no interior de outras áreas de conhecimento, embora de maneira mais institucionalizada.  No campo da pedagogia, escolas normais (criadas a partir da década de 1830) foram espaços de discussão, ainda que incipientes e pouco sistemáticos, sobre a criança e seu processo educativo, incluindo temas como aprendizagem, desenvolvimento, ensino e outros.
Assim, percebe-se as ligações entre a psicologia e a educação, não deixando de lado a pedagogia, que articula a parte teórica e a parte prática pedagógica, porque o ato entre essas duas áreas foi essencial para a psicologia conquistar sua autonomia. Os campos de atuação da psicologia se desenvolveram a partir da década de 30, e com isso a educação continuou sendo origem para o desenvolvimento da psicologia. Alguns psicólogos escolares na década de 70 fizeram críticas tanto a psicologia escolar quanto a educacional como: hipertrofia da psicologia na educação.
Nesse sentido, a superação dessa situação exigia não somente a crítica à hipertrofia da psicologia na educação, ao reducionismo, às interpretações aligeiradas e banalizadas, às ações fundadas num modelo estranho à educação, como o modelo médico, e à culpabilização da criança e de sua família, mas também a restituição de seu núcleo de bom senso. Fazia-se necessário devolver à psicologia seu lugar no processo pedagógico. (ANTUNES, 2008).
As relações entre a Educação e a Psicologia existem, pois a área da psicologia educacional tem o interesse tanto em pedagogos quanto em psicólogos (a psicologia escolar se especifica no profissional da psicologia que atua no campo escolar). O foco dessas duas áreas são os compromissos e as perspectivas em relação ao indivíduo.
Portanto, isso significa que dentre muitos diálogos em relação à respectiva área do saber, é importante que ocorram perspectivas em relação ao avanço da mesma e o aperfeiçoamento das práticas a ela destacadas. A história mostra que alianças entre a Psicologia, educação e sociedade seguiram para interesses opostos, na maioria das vezes contra os direitos das classes populares. Desta compreensão podemos entender de maneira efetiva a construção de uma Psicologia Escolar, logicamente comprometida com uma educação social dedicada aos interesses dessas classes. Isso define e determina o compromisso e a atuação do psicólogo.

Características da Área da Psicologia Escolar

Os trabalhos desenvolvidos por psicólogos na área educacional documentado pelo Conselho Federal de Psicologia (vide anexo), despertam interesse e promovem uma leitura das características a partir dos verbos e termos utilizados para enumerar as ações a serem executadas por esses profissionais. São eles: elaborar, colaborar, supervisionar, orientar, executar, diagnosticar, participar, desenvolver e planejar.
O que está posto nas orientações que descrevem sua ocupação dentro dos setores que existem como possibilidades de atuação, apontam para um trabalho com características de colaboração e compartilhamento de saberes. O psicólogo não atua no ramo escolar como se estivesse na clínica ou em outro âmbito. Fato bem específico porque os universos das instituições escolares diferem em muito de outras instituições, sejam elas públicas, privadas, confessionais ou até mesmo ONGs. A educação possui essa face agregadora e humanitária.
Segundo Dadico e Souza (2010, p. 16):
O caráter coletivo dos trabalhos realizados nas organizações não governamentais acaba, em si, constituindo fonte de satisfação para os profissionais envolvidos, pois eles sentem que seu trabalho é relevante e necessário – ainda que isso, em muitos casos, signifique uma carga de trabalho julgada excessiva e desviada para funções pouco nobres.
Mesmo apresentando essas características, os desafios encontrados pelos profissionais que não são da área do magistério, mas entram nesse contexto, são grandes e padecem de uma espécie de “contaminação”. Os salários podem ser nesse caso um exemplo, e o exposto por Dadico e Souza (2010, p. 12) para a realidade das ONGs pode ser replicado nas demais instituições: 
Uma das explicações que revela a dificuldade em se atingir uma remuneração adequada em organizações não governamentais é o fato de, no Brasil, o trabalho social possuir historicamente forte vinculação com a Igreja e, em consequência, com a ideia de doação, ou, sob o novo discurso, de voluntariado, como contraponto laico, aponta-se a busca do trabalho competente.
Ideia não muito diferente da atividade laboral de lecionar, pois há grandes mitos e equívocos sobre a nobreza dessa profissão.
Para Santos e Ferreira (2015), em relação aos psicólogos que atuam em instituição particular: “o psicólogo trata do desenvolvimento do aluno seja ela criança ou adulto, sua aprendizagem, emocional e social.” Essa visão aponta para uma gama de possibilidades que os profissionais encontram nas escolas.
A Psicologia Escolar tem como referência conhecimentos científicos sobre desenvolvimento emocional, cognitivo e social, utilizando-os para compreender os processos e estilos de aprendizagem e direcionar a equipe educativa na busca de um constante aperfeiçoamento do processo ensino/aprendizagem. Sua participação na equipe multidisciplinar é fundamental para respaldá-la com conhecimentos e experiências científicas atualizadas para tomada de decisões em questões relevantes no dia a dia da sala de aula, nas quais os fatores psicológicos tenham papel preponderante (SANTOS; FERREIRA 2015, p. 1).
É a partir de uma visão dessa natureza que se explica as frentes relacionadas a parte preventiva e a parte que requer mudanças, passando essa característica a ser considerada dependendo do contexto. Outra importante característica é a variação de técnicas e métodos que podem ser utilizados pelo psicólogo escolar para auxiliar nessa prática. Aqui podem se destacar: observação, avaliação psicológica, aconselhamento, dinâmicas e grupos operativos.
Para Costa, Souza e Roncaglio (2003, apud PATIAS, 2011) é através da observação que se dá a procura do que está encoberto e essa possibilidade favorece uma melhora na relação dos indivíduos com o que está ao seu redor.
Para observar necessária uma atenção concentrada aos fenômenos que ocorrem, nas condições, tentando buscar suas causas, leis e propriedades. O psicólogo escolar deve estar atento e observar tudo o que acontece no contexto escolar, pois é através da sua observação que este pode levantar demandas para seu trabalho como psicólogo escolar (COSTA; SOUZA; RONCAGLIO, 2003 apud PATIAS, 2011, p. 7).
Ainda devem ser consideradas as seguintes técnicas que seguem descritas como colocadas pelos autores, e organizadas aqui em diagrama:
    
Avaliação psicológica:
O psicólogo escolar pode lançar mão de avaliações psicológicas para aquelas crianças e adolescentes que, após tentativas de resolver dificuldades dentro do sistema da sala de aula, possuem dificuldades maiores, mais individualmente necessitem de um apoio psicológico.
Aconselhamento:
Relação entre duas pessoas, na qual uma delas é ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional e profissional.
Dinâmica:
Espera que as pessoas possam desinibir a capacidade criadora, tornando-se mais desenvoltos, aumentar as transformações dos grupos, alterando a produtividade, aumentar a coesão grupal, proporcionando um aperfeiçoamento do trabalho coletivo.
Grupos Operativos
A pessoas que dele participam aprendem além de pensar, adquirir conhecimento que os capacita a observar e a escutar, a relacionar as opiniões do outro com suas próprias opiniões, admitir que o pensamento do outro pode ser diferente do seu e também a formular hipóteses em uma tarefa de equipe.
Fonte: Elaboração própria a partir do artigo de Patias (2011).
Destarte, essas possibilidades se ampliam infinitamente quando a cooperação se processa dentro da equipe escolar criando e recriando alternativas para alcance de metas.

Atuação do Psicólogo no Contexto da Psicologia Escolar

Sendo a escola uma importante instituição social que abriga considerável  processo de desenvolvimento do ser humano nas diferentes faixas etárias e acompanha, por muitas vezes, a existência de conflito desses indivíduos enquanto cidadão em permanente processo de crescimento e desenvolvimento, esta deve ser objeto de especial atenção para o desenvolvimento da sociedade e compartilhamento dos saberes historicamente acumulados.
 Ao falar de escola há uma compulsória necessidade de registrar também os processos da aprendizagem e as compreensões históricos acerca desse assunto. Na existência de psicólogos dentro das instituições escolares, olhares diversos são direcionados aos alunos, gerando novas possibilidades de condução dos processos de aprendizagem.
As teorias psicológicas no campo da aprendizagem são as teorias de condicionamento e as teorias cognitivas. Para Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 132-133) nas “(...) teorias de condicionamentos estão as contribuições que definem a aprendizagem por suas consequências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como força propulsora da aprendizagem.” Segundo a mesma autora, as teorias  cognitivistas definem aprendizagem como um “(...) processo de relação do sujeito com o mundo externo, com consequências no plano da organização interna do conhecimento”.
Esses modelos presentes nas mais diferentes realidades da educação brasileira requerem dos psicólogos uma abordagem mais refinada nas intervenções, considerando que as rotinas pedagógicas nas salas de aulas deixam impregnadas as consequências, nem sempre conscientes, feitas pelo professor na execução do seu trabalho.
Quando se trata de aprendizagem, os modelos levam em consideração a organização das informações e a forma como acontece o processo de ensino-aprendizagem, cabendo nesse momento destacar a aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa. Nessa última, evidencia-se o conceito de cognição baseado em David Ausubel (1963), que aparece como  um processo através do qual o mundo de significados tem origem, sendo dele a afirmação que  "O fator isolado mais importante que influencia o aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece"; ideia apresentada quando as teorias behavioristas predominavam.
Nessa mesma linha de pensamento evoca-se o pensamento de Jerome Brumer (apud Bock, Furtado e Teixeira, 2008, p. 136) de que o “ensino envolve a organização da matéria de maneira eficiente e significativa do aprendiz”.  Bruner ainda postula que “qualquer assunto pode ser ensinado com eficiência, de alguma forma intelectualmente honesta, a qualquer criança, em qualquer estágio de desenvolvimento”.
Nesse intento, o psicólogo pode contribuir para essa leitura de realidades e tempos dentro das práticas escolares, alertando sobre a necessária gradação dos conhecimentos, sempre partindo dos conceitos mais simples para os mais complexos. Essa contribuição é fundamental, a partir do momento em que se constata um pensamento pedagógico que espera dos alunos os melhores resultados sem identificação dos seus níveis e diferentes ritmos.  Outro fator decisivo no processo de aprendizagem tem relação com a motivação, que por sua vez está ligada ao ambiente, podendo ser entendida uma espécie de cadeia montada no tripé Ambiente-Organismo-Interesse ou Necessidade (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).
Teóricos como Jean Piaget, Lev Vygotsky, Henri Wallon, Emília Ferreiro, David Ausubel  estão na lista dos que muito contribuíram para aprofundamento nessa área, sendo leitura tanto para  psicólogos como para pedagogos. A referência a autores da educação, como Paulo Freire, Miguel Arroyo, Celso Vasconcellos contribuem nesse universo. Em cada um deles há uma carga adicional de conhecimentos necessários para a melhoria de desempenho dos profissionais. No olhar mais clínico as leituras são relacionadas a “autores clássicos da Psicologia clínica, principalmente os de base psicanalítica, como Sigmund Freud, Donald Winnicott e Jacques Lacan” (YAMAMOTO et al., 2013).
As instituições escolares diferem de outros tipos de instituições, e, portanto, requerem dos profissionais posições e comportamentos adequados ao trabalho que ali se realiza. Tomando emprestadas as palavras do professor Paulo Freire, é possível entender um pouco desse universo em que se entrelaçam “gentes” e “histórias”, quando assevera:
Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam (FREIRE, 1996, p. 54).
E nesse pensamento deve-se fundamentar o psicólogo que encontra situações diversas em diferentes ordens e contextos para lapidar as relações e contribuir com seus conhecimentos para uma prática baseada em princípios éticos.
Quando a atuação do psicólogo acontece na escola pública, há fatores adicionais que merecem uma atenção, pois segundo Patto (1981, p. 8) no prefácio do seu livro já alerta:
O que o psicólogo necessita, tendo em vista as especificidades da instituição escolar pública em que vai atuar (e como condição sine qua non para a adoção de uma postura profissional mais consciente, mais crítica e mais comprometida com a transformação do mundo e com a dignidade do homem) é compreender as relações entre a escola e sociedade (...).
Uma visão equivocada da profissão de psicólogo pode instigar uma expectativa diferente da atuação desse profissional no meio escolar, gerando uma esperança de pronta resolução de conflitos, correções de problemas mentais, atendimentos individuais, desenhos de perfis: um novo ser que é meio bruxo meio santo, salvador da pátria, entre outros. Essa relação deve ser bem estabelecida e pactuada no início do efetivo exercício da profissão.
Observando algumas recentes críticas a presença dos psicólogos nas escolas, recorta-se o pensamento ligados ao cunho psicodiagnóstico, psicoterapêutico e reeducativo que segundo (YAMAMOTO et al., 2013) acontece a partir da década de 80. Outras críticas surgem e questionam o papel dos psicólogos no contexto escolar. Dentre elas pode-se destacar “dois grandes eixos: na necessidade de superar a noção unilateral de adaptação da criança ao sistema escolar e na atuação do psicólogo como profissional independente do corpo administrativo da escola (MALUF, 1994 apud YAMAMOTO et al., 2013).
Embasando as concepções teóricas dos psicólogos, as tendências mais adotadas nas escolas são: tendência clínica, tendência institucional e tendência clínica e institucional. Sobre cada uma delas pode-se desenhar alguns entendimentos que baseados em Yamamoto et al. (2013) a primeira se baseia numa “atuação profissional individualizada, baseada em diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem”, enquanto a institucional “reúne respostas referentes a formas de intervenção em que a atuação tem como foco a instituição educativa como um todo, incluindo os diversos atores do contexto escolar” e a finaliza com uma tendência que se desenha com características de ambas as tendências “(...) situando-se em uma posição intermediária entre a tendência clínica e a institucional”.
Participar da formação dos educadores é uma tarefa em vigência na rotina do psicólogo escolar por proporcionar que alguns saberes necessários cheguem na vida dos alunos e contribuindo para a ação-reflexão-ação dos projetos escolares, atingindo uma amplitude de chegar nos lares e de certa forma na sociedade. Desse modo, a resolução de conflitos e afinidades nos convívios podem ser incrementados com essa presença forte do psicólogo, que faz a transposição de teorias para uma prática pulsante, sem descuidar do respeito e da ética.
Inexoravelmente, essa conclusão se apoia no pensamento de Babosa e Marinho-Araújo (2010, p. 400):
A busca pela ressignificação das concepções de intervenção e das práticas do psicólogo escolar com vistas à realização de um serviço que procure trabalhar não mais na remediação das dificuldades de aprendizagem, mas na reflexão, contribuindo, assim, para  a transformação do espaço escolar em local de valorização do ser humano, responde a questionamentos e alenta os incômodos. Entretanto, abre espaço a novos desafios e propõe a continuação da tecitura da história da psicologia escolar.
Essa postura certamente contribuirá não somente para a melhoria das relações nesse contexto, mas também para a construção de uma escola que tenha uma função social definida e baseada na justiça, nos valores que estão previstos em lei e aguardados por tantos usuários desse sistema.

Análise da Entrevista

A entrevistada, a psicóloga e professora Lorrane Caliope Castelo Branco Mourão, que além de ser graduada, possui mestrado e doutorado em psicologia, tendo como principal autor de suas pesquisas Fritz Perls. Sua fala se baseia na própria vivência profissional, que tem um atravessamento clínico além da docência e da pesquisa. Ela chama a atenção para o fato da Gestalt fundamentar sua vida quando aponta sobre “a fluidez dos processos” e “da importância de viver os momentos presentes”, e reforça que as “experiências devem ser vividas, usando os termos: aqui e agora” termo destacado também por Bock (2008, p. 95).
No decorrer da entrevista deixa-se bem claro que existe diferença entre psicologia escolar e psicologia educacional, na qual a psicologia escolar está restrita ao âmbito da escola, sendo escola infantil, fundamental e médio, tanto em escola de ensino público ou restrito. A psicologia educacional lida com a relação da psicologia não com base estritamente a escola, mas sim com o todo, pois existem outras formas de educação que não precisam ser necessariamente ligadas à escola, na qual podemos citar como exemplo, as escolas não tradicionais que não estão em ambientes restritos.
A perspectiva da psicologia educacional é tratar a educação como algo mais amplo que não está restrito somente a escola. A entrevistada afirma que utiliza a psicologia educacional, pois, a mesma é algo amplo. É de tamanha importância do psicólogo dentro e fora da escola entender todos os contextos no qual o aluno está inserido. O psicólogo dentro da área educacional é muito essencial, porém não só na escola, pois, a escola é só um dos campos que o psicólogo pode atuar. O profissional poderá realizar atividades dentro e fora da escola, tanto em escolas tradicionais, como em escolas não formais. A presença do psicólogo no âmbito escolar é de total relevância, pois o mesmo poderá não solucionar todos os problemas, mas irá entender e terá sua visão sobre aquele assunto.
Quando se fala em psicologia escolar, tende-se a achar que o único âmbito de trabalho será a escola, porém, por meio deste trabalho ficará claro que a escola não é o único lugar de intervenção do profissional educacional, mas sim o todo, no qual poderá educar fora e dentro da escola. A visão que se tem do psicólogo escolar ainda hoje é de um mágico que terá que resolver todos os problemas do aluno que não se portar de forma correta diante das regras impostas pela escola, e diante de tais problemas estão os problemas familiares, sociais e até mesmo da escola. Para que possa resolver os problemas, o psicólogo acaba tendo que ter uma visão individualista sobre o aluno e para que haja a resolução dos problemas. O psicólogo passa a ter uma visão de cura, na qual o profissional deverá curar o aluno do seu problema, no qual busca abordar mecanismos e técnicas tanto clínicas e individuais.
O grande desafio da psicologia escolar/educacional dentro da escola é parar de culpabilizar tudo, sendo que a culpa ora é da escola, do aluno, da aprendizagem, da família e da estrutura social, e assim passar a ter uma perspectiva menos individualista e multidimensional, procurar ver todos os aspectos que estão na escola entre todas as relações, pois não tem como desvincular a escola do meio social, devem-se observar todos os problemas com multidimensões, pois tudo poderá causar algum tipo de problema. A valorização do psicólogo na área escolar ainda é de mágico que deverá resolver todos os problemas, porém, cabe ao psicólogo atuar de forma correta.

 Conclusão                                          

Em virtude dos fatos mencionados, pode-se inferir que há uma diferença entre psicologia escolar e psicologia educacional, sendo a primeira restrita à escola, ou seja, do ensino fundamental ao médio, já a psicologia educacional trata-se da educação como todo. Percebe-se também que o psicólogo escolar é ainda em muitos casos visto como um “mágico” que resolve todos os problemas da escola como, por exemplo, alunos hiperativos. Em questões sociais ou em questões da demanda da escola, um grande desafio do psicólogo escolar é parar de “culpar” tudo, isto é, coisas ou pessoas.
O psicólogo escolar deve buscar agir de forma de multidimensões, ou seja, de educação, de sociabilidade, de questões psicológicas e etc., cuidando para não medicalizar as crianças e clinicalizar a mente das mesmas, nem colocar as situações de forma clínica.
Entende-se que a valorização do psicólogo escolar ainda existe como um tabu de que ele seja um ser que resolve tudo, e que perdura o valor mágico do mesmo. O Psicólogo, enquanto profissional, deve valorizar formas de atuar na escola que mostrem perante a sociedade que sua prática não se resume à resolução de problemas.
Portanto, o comportamento e a ética devem se pautar pelas orientações já emanadas do Conselho Federal de Psicologia e o sentimento de construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

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ENTREVISTA:  Psicóloga Lorrana Caliope Castelo Branco Mourão. Concedida e  Gravada em 24 de maio de 2016. UniLeão. Juazeiro do Norte - Ce
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