Gritar não faz com que crianças aprendam com os erros
Ao elevar o tom de voz ela não assimila a mensagem passada pelos pai
Daniella Freixo de Faria
PSICOLOGIA - CRP 58821/SP
PSICOLOGIA - CRP 58821/SP
ESPECIALISTA MINHA VIDA
Vale sempre muito a
pena refletir sobre como estamos conduzindo a educação das crianças.
O grito tem acontecido com bastante frequência. Parece funcionar, mas ao mesmo
tempo o aprendizado das crianças não acontece e os gritos se repetem cada vez
mais.
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Funciona mais ou
menos assim: as crianças começam a obedecer seus pais somente quando os gritos
aparecem , como se tivessem criado um espaço de tempo entre o pedido e o grito.
O pensamento acontece mais ou menos assim: "como sei que minha mãe ainda
não gritou , entendo que tenho ainda mais tempo pra enrolar pra ir tomar banho",
por exemplo. Essa é a reflexão da criança que, muito inteligente, percebe o
nosso funcionamento e se adequa a ele.
O grito funciona
como um grande susto. A criança sente a pressão, a irritação ou até mesmo a
raiva e sai em disparada, assustada para fazer o que lhe foi gritado. No grito
não absorve o que foi dito, o conteúdo do grito, por isso o pequeno volta a
repetir esse mesmo comportamento até que mais um grito acontece. Ou seja, pais
e mães passam a gritar todos os dias.
A criança entende
que é só no grito que tem realmente que fazer as coisas. Funciona como um
grande ciclo vivo, alimentado por nós adultos e pelas crianças. Gritamos, as
crianças fazem o que é preciso, sentimos culpa, pedimos desculpa e falamos de
uma maneira melhor, mas, no dia seguinte, gritamos novamente e refazemos o
mesmo processo de total incoerência na sua forma.
Essa incoerência
conta que nossa missão de educadores esta totalmente a mercê de nosso estado
interno. Variamos de acordo com o que ocorre em nossos corações, afinal somos
humanos, mas essa variação dentro da educação faz com que a confusão na
comunicação se instale e a condução tão necessária se perca no meio do caminho.
Educar assim é bem mais difícil.
Cuidar de como nos
comunicamos é o primeiro passo. Olhar nos olhos, ir até a criança e falar com
clareza e cuidado do que precisa acontecer. Isso facilita o dia a dia nas
tarefas necessárias e repetitivas. Para isso, começamos cuidando para
afirmarmos, conduzirmos a criança ao invés de perguntarmos se ela quer ir tomar
banho.
O que passa em
nosso coração faz toda diferença. A irritação quando toma conta contamina esse
ambiente e toda a nossa comunicação. O caminho é dizer isso ao filho. A criança
não precisa saber de detalhes, mas quando contamos a ela que estamos irritados
com alguma outra coisa e precisamos de sua ajuda, elas surpreendem e ajudam,
fazem sua parte pra valer.
Além disso, só o
fato de falarmos de nosso estado interno já nos possibilita acessar outro nível
de consciência. Podemos sentir, perceber que aquela criança está ali nos
olhando, aprendendo conosco, nos esperando e nós, os adultos, podemos sim
cuidar melhor desse encontro. Às vezes é assim mesmo, basta ter consciência e a
situação já não é mais a mesma, já esta transformada e aberta em novas e boas
possibilidades. Não é raro nos surpreendermos com um belo colinho dos pequenos.
Existir, ser,
perceber-se, cuidar de si mesmo para cuidarmos de que lugar encontramos nossos
filhos faz toda a diferença nessa jornada de educação. Damos a eles o alívio de
saberem que é desse lugar de respeito que também seguimos aprendendo. Afinal
somos todos, crianças e adultos, eternos aprendizes.