PSICOPEDAGOGIA NEUROPSICOLÓGICA - ESPAÇO PARA DISCUSSÃO DE TEMAS RELATIVOS A PSICOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA. EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PSICÓLOGOS.REABILITAÇÃO COGNITIVA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA. TEMAS RELACIONADOS AO ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA, PSICOLOGIA CLÍNICA, NEUROPSICOLOGIA CLÍNICA E REABILITAÇÃO COGNITIVA - DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM, SÍNDROMES DA APRENDIZAGEM - EDUCAÇÃO SEXUAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA

domingo, 27 de maio de 2007

SÍNDROMES DA APRENDIZAGEM

Distúrbios Neurológicos , Transtornos da Emocionais, Transtornos da Aprendizagem
Até que ponto o professor é co-responsável?

A complexidade do nosso cérebro



O cérebro humano é a obra mais perfeita do universo! Sua complexidade é tamanha que, ao longo dos milhões de anos que o homem habita este planeta e, com todas as tecnologias que já foram desenvolvidas a partir do cérebro humano, ainda temos um longo caminho a percorrer até que consigamos desvendar uns 10% de todo o potencial dessa maravilhosa máquina que é nosso cérebro. É em função de toda essa complexidade que as neurociências têm investido longos anos de pesquisas para explicar e tratar os inúmeros transtornos que nosso cérebro é capaz de produzir.
O cérebro humano é caracterizado de acordo com o modelo biomatemático proposto por Piaget como um sistema aberto, ou seja, só é capaz de sobreviver e de se desenvolver por intermédio de contínuas trocas com o meio. Em casos de comprometimento da viabilização desse intercâmbio, o sistema poderia entrar em colapso. Assim, a pessoa pode dispor de toda a estrutura neurofisiológica intatcta mas, apresentar dificuldades na interação com o meio através dos órgãos receptores (audição, visão, tato, paladar e olfato ), por outro lado, pode ter nascido com malformação congênita do sistema neurológico e/ou adquirido através de acidentes ,por exemplo, perdendo assim, partes das áreas previamente designadas a execução de funções como: Coordenação do esquema corporal (todos os movimentos do corpo coordenados com o espaço físico em que a pessoa se encontra), andar, falar, internalizar conceitos, organizar o raciocínio, planejar e executar atividades, dar respostas coerentes de acordo com a demanda do ambiente.
Geralmente essas funções são mais evidenciadas quando a criança ingressa na escola e lhe é exigido comportamentos previamente esperados pela maioria das pessoas que convivem em sociedade. Essas exigências infelizmente são padronizadas considerando a idade cronológica da criança. Digo infelizmente porque as diferenças individuais e idiossincráticas não são consideradas, no momento em que padronizamos comportamentos, atitudes e desempenhos esperados.
Nesse sentido há uma infinidade de distúrbios, disfunções e “defeitos” a que todos os seres humanos estão vulneráveis ao longo de sua existência. Mas, o que nos alenta é saber que o nosso cérebro estará sempre em processo de transformação e adaptação. Uma das primeiras “proezas” foi a de ter aprendido a representar o que observa e vivencia por meio das imagens e da linguagem e, dessa forma pode construir um registro interno extremamente valioso, que lhe possibilita corrigir e regular suas próprias interações, adaptando-se melhor . Isso significa que a característica maior das nossas estruturas mentais seria a de ter aperfeiçoado incrivelmente o mecanismo de auto-regulação. O Homem aprendeu a se utilizar de forma consciente e ágil de sua experiência passada para se organizar no presente, já com vistas no futuro.

Os principais distúrbios da aprendizagem escolar


As diversas terminologias já catalogadas para o mal funcionamento cerebral vão desde um “simples” transtorno (simples no sentido de menor prejuízo a pessoa) até os distúrbios mais graves com comprometimento de grande parte das funções, incapacitando a pessoa.
Quando a criança já nasce com um distúrbio cerebral perceptível aos olhos dos médicos e dos pais, a intervenção médica precoce é altamente recomendada podendo minimizar sobremaneira as limitações da criança ao longo do seu desenvolvimento.
Porém, quando a criança nasce fisicamente normal e ao longo do amadurecimento neurológico não apresenta nenhuma “pista” de que algo não está se desenvolvendo como deveria, a ajuda pode demorar bastante e, em alguns casos nunca virá e, a pessoa acaba por desenvolver uma série de transtornos limitadores ao seu convívio social .
Por outro lado, quando a criança ingressa na escola, muitos destes distúrbios podem ser identificados e, encaminhados aos profissionais especializados para o devido tratamento. É na escola, no convívio com os colegas e professores que são identificados os principais transtornos “invisíveis” causadores de dificuldades de aprendizagem, dificuldades estas relacionadas a uma infinidade de comportamentos entre eles: comportamento anti-sociais cujas características principais são a timidez em excesso, a agressividade, ou a psicossomatização. Nessa área, a criança pode desenvolver desde uma simples febre sem uma causa fisiológica aparente até sérios distúrbios de alimentação, de comportamento social e graves dificuldades de aprendizagem, levando-a a um comprometimento grave das funções cognitivas (aprendizagem geral e escolar).
Esta fantástica complexidade é comandada pela maravilhosa máquina cerebral. Nosso cérebro tem inúmeras possibilidades que, multiplicadas pela 10ª potência, ainda não temos condições para dimensionar quais as “alternativas” inconscientes que ele escolherá para nos mostrar que não está sendo bem tratado ou, que não está sendo devidamente aproveitado. Dentre os inúmeros transtornos , disfunções e/ou dificuldades para a aprendizagem, os mais comuns são: a DCM – Disfunção Cerebral Mínima; Transtornos emocionais (anorexia, depressão, agressividade, gagueira, doenças alérgicas, entre outros); Dislexia, Dislalia, Disfasia, Discalculia e, por aí vai...
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – o famoso TDAH, tem sido o mais controvertido dos transtornos dentre as inúmeras dificuldades de aprendizagem que a criança irá enfrentar (infelizmente) ao longo de sua vida acadêmica.
É importante ressaltar que, nem sempre o problema está concentrado na dificuldade da criança. Considerando que o processo de formação de educadores ainda é deficitário. Acresce-se aí a nova realidade das famílias que se configuram ora mãe, filhos ou mãe, padrasto e filhos ou ainda, madrastas, filhos e “filhos do meu pai e/ou filhos da minha mãe”, etc.
Com isto quero dizer que, todas essas transformações ainda não foram totalmente assimiladas pela escola e, também pode se configurar em mais uma, dentre as inúmeras causas das dificuldades escolares, ou seja, a nova organização das estruturas familiares que podem gerar os transtornos emocionais que, por sua vez geram graves dificuldades da aprendizagem e que , geralmente só são detectáveis na escola.
Partindo desse princípio é fácil deduzir a grande responsabilidade do professor ao compartilhar dessa “cadeia” de agentes que tanto pode contribuir para a gravidade da situação como também para a solução da infinidade de problemas , dificuldades e limitações a que a criança estará exposta por ocasião do seu ingresso na escola.
Analisando todos esses aspectos, pode-se admitir que o professor infelizmente , ainda não se sente preparado para detectar (adequadamente), tais dificuldades. A família por outro lado, apesar de sofrer com o problema, também não tem informações suficientes para compreender e buscar ajuda , acabando por contribuir para a gravidade do problema. Com toda essa gama de possibilidades e condicionais, obviamente , é sempre a criança que sofrerá as piores conseqüências.



Mecanismo de aquisição da habilidade de leitura e escrita



A título de ilustração, é interessante percebermos a complexidade dos processos que envolvem a habilidade da leitura, objeto principal para o conseqüente desenvolvimento das habilidades cognitivas exigidos pela criança ao longo de sua vida acadêmica e consequentemente, social. Aprender a ler envolve primeiramente a identificação dos símbolos impressos (letras e palavras) e o relacionamento destes símbolos com os sons que eles representam. No início do processo de aprendizagem da leitura, a criança tem de diferenciar visualmente cada letra impressa e, perceber que cada símbolo gráfico tem um correspondente sonoro. Quando a letra p é visualizada, esta deve ser relacionada com a forma sonora que a representa, ou seja : Ao entrar em contato com as palavras a criança deverá discriminar visualmente cada letra que forma a palavra a forma global da palavra e associa-la ao seu respectivo som, formando uma unidade lingüística significativa.
Se a associação entre palavra impressa e som não for realizada a criança não poderá ler, pois as letras e as palavras não terão correspondentes sonoros, (Dislalia). Como exemplo suponhamos que vivemos numa sociedade na qual se fala uma língua estranha, mas que nós a conhecemos e a falamos muito bem. Para escrever essa língua usam-se letras que podemos facilmente diferenciá-las umas das outras, mas desconhecemos sua relação com a fala.
Quando vemos esta palavra escrita ( # = % * @ ) percebemos perfeitamente que os cinco sinais são diferentes, mas para nós, não passam de desenhos, não tem qualquer significado já que desconhecemos os sons que eles representam. Da mesma forma, a criança que não consegue fazer a associação palavra impressa-som quando se depara com a palavra livro esta não passa de um desenho porque não tem correspondência com a sua linguagem falada.
Esse processo inicial de leitura que envolve a discriminação visual dos símbolos impressos e a associação entre palavra impressa e som é chamado de decodificação.
Mas para ler, não basta apenas realizar a decodificação dos símbolos impressos, é necessário que exista também a compreensão e a análise do material lido. A compreensão não é nada mais que relacionar as palavras que são decodificadas aos seus respectivos significados (objetos)
A capacidade de leitura envolve portanto as seguintes etapas:
 Decodificação – palavra impressa e som
 A compreensão – relacionar as palavras que são decodificadas aos seus respectivos significados (objeto)
 Análise crítica - o material impresso que foi decodificado e compreendido.
Deve suscitar no leitor uma reação as idéias impressas. As reações podem ser emocionais ou intelectuais. A crítica emocional caracteriza-se pelas reações do tipo gostei , não gostei, - as reações intelectuais, caracterizam-se pela avaliação teórica dos fatos – sua exatidão ou inexatidão pela análise do contexto social que enquadra os fatos que estão sendo apresentados.

Por outro lado, a escrita é o inverso da leitura. Se na leitura se estabelece uma relação entre palavra impressa – som – significado, na escrita a relação estabelecida é entre som – significado – palavra impressa. Essas duas habilidades ou seja, a de leitura e da escrita, são os pré-requisitos essenciais para a aquisição do conhecimento preconizado pela escola. Sem essas, o aluno jamais terá condições de acompanhar os conteúdos programáticos desenvolvidos e cobrados pela escola.

Conseqüências emocionais agravantes – A criança problema

Comumente a escola torna-se um ambiente aversivo e gerador de ansiedade pois, é nesse local que a criança se depara frente a frente com seus problemas e com as exigências de ter uma boa produção para poder passar de ano. Quando a criança apresenta este tipo de transtorno, (Denominado de Dislexia) as dificuldades acumuladas a cada etapa de aprendizagem, as cobranças dos pais e professores e, os risos, gozação dos colegas, contribuem para o desenvolvimento de comportamentos os mais diversificados possíveis ora agressivos, ora apáticos, ora psicossomáticos (febres, dores de cabeça, alergias, distúrbios alimentares: anorexia ou obesidade, etc.) ou transtornos comportamentais tais como: inibição, timidez e ansiedade frente ao ambiente escolar que , podem culminar, na maioria das vezes em evasão escolar se a criança não receber a ajuda necessária.
As dificuldades escolares (independentes da causa) devem ser motivo de preocupação de professores e pais, na tentativa de se fazer um diagnóstico precoce com a finalidade de se desenvolver uma estratégia de ajuda, que auxilie a criança a superar os obstáculos que vão tornando impossível o ato de aprender a ler e a escrever.

Diante disso, o que podemos fazer?

Considerando a complexidade no nosso cérebro e as inúmeras maneiras que ele nos proporciona para criar problemas e consequentemente, buscar alternativas de solução, temos então uma infinidade de intervenções que podem minimizar os trantornos e, em muitas situações até eliminar completamente o problema. Dessa forma, as neurociências já desenvolveram inúmeras técnicas de intervenção que, atualmente são aplicadas com excelentes resultados, tanto nas disfunções mais simples até as mais comprometedoras. Dentre elas pode-se citar:
 Psicoterapias cognitivo-comportamental; psicanálise, Gestalt-terapia, terapia sistêmica, terapias humanísticas, etc. para a reestruturação da personalidade, (auto-estima, autoconceito e auto-percepção):
 Psicopedagogia com intervenção na psicomotricidade;
 Psicopedagogia com Reeducação do esquema corporal;
 Intervenção psicopedagógica com ênfase no Treino de processo de atenção (TPA) aplicando exercícios organizados hierarquicamente , endereçados especificamente aos cinco componentes da atenção ( a focalizada, mantida, alternada, seletiva e a dividida). Os exercícios são planejados de modo a requerer, de um modo gradual, sistemático e progressivo o envolvimento cada vez mais intenso e compreensivo do sistema cognitivo que se encontra comprometido, dentre outras.

É importante ressaltar que todos os problemas de aprendizagem têm uma causa e, consequentemente uma solução. Se não totalmente, dependendo da gravidade do problema ainda assim, pode-se conseguir resultados altamente positivos com a intervenção psicológica e psicopedagógica , atuando multidisciplinarmente, o paciente pode conquistar melhorias de qualidade em todas as dimensões do seu desenvolvimento.
Cabe aos pais e educadores compreender e observar o comportamento da criança e/ou do jovem e, a partir dessas observações buscar a ajuda profissional necessária para redirecionar o processo evolutivo do (s) distúrbio (s) tanto das estruturas neurofisiológicas quanto da evolução das estruturas de personalidade pois, como disse inicialmente, a complexa e maravilhosa cerebral sempre poderá encontrar novos caminhos para solucionar os problemas e transpor os obstáculos que nos são apresentados cotidianamente sejam eles físiológicos, psicológicos, neurológicos, sociológicos ou pedagógicos !
Nesse contexto, o professor jamais poderá se eximir da responsabilidade, uma vez que sua função social não se restringe a transmitir informações. Antes de tudo, tem-se que se envolver com a formação global do aluno. Não há educação se não houver envolvimento, compromisso, engajamento. A recompensa, garanto-lhes, sempre vale a pena ! Para essa maravilhosa máquina que se constitui o cérebro humano há sempre uma alternativa que pode transformar, criar, adaptar, reorganizar-se num todo harmônico transformando um humano-problema em um humano-feliz!


Vera Maria de Carvalho
Pedagoga e Psicóloga, especialista em
Psicodiagnóstico, Psiconeurolinguística e
Reabilitação cognitiva
crp 6663-2 -(61)3340-0114




Sugestões Bibliográficas:
CAPOVILLA, Fernando César (et.alii) TECNOLOGIA EM (RE) HABILITAÇÃO COGNITIVA, UMA
PERSPECTIVA MULTIDISCIPLINAR, S.P. Ed. Loyola, 1998
ALSOP,Pippa e McCAFFREY,Trischa, (org.) TRANSTORNOS EMOCIONAIS NA ESCOLA,
ALTERNATIVAS TEÓRICOAS E PRÁTICAS, S.P. Summus, 1999
BARROS, Juliana M.G. JOGO INFANTIL E HIPERATIVIDADE, R..J. Sprint, 2002
DROUET, Ruth C.R., DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM, S.P. Atica, 1995

Um comentário:

Unknown disse...

Vera Boa tarde!
Gostei muito do texto síndrome da aprendizagem,ele tem um pouco haver com o meu tema da monografia, que é o prejuizo cognitivo causado pelo bullying, gostaria de saber o que a Senhora tem sobre este meu tema, pois estou precisando muito de embasamentos teóricos, e por enquanto to meio perdida. Se poder me ajudar, eternamente grata. Obrigada desde já. Sarah Regina.Sarah.lima@spmulheres.gov.br/sarahregina.lima@bol.com.br/sarinha_gatinha_6@hotmail.com