O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A EXACERBAÇÃO DO TOC: COMO
DEVE AGIR O CUIDADOR?
ESTUDO DE CASO
By: VMC
O
Transtorno Obsessivo Compulsivo é muito mais comum do que imaginamos já que, na
maioria das vezes, o diagnóstico é extremamente tardio ou seja, só depois que a
pessoa alcança o seu ápice, sua vida se torna um grande sofrimento. Trata-se de
um transtorno altamente limitante e somente quando os familiares e amigos já
não suportam mais a convivência, e o próprio indivíduo se dá conta de que
precisa de ajuda. Aí, ou vai por conta
própria ou, como ocorre em grande parte das vezes, são conduzidas por amigos ou familiares.
A grosso modo, o TOC pode ser
explicado como: Transtorno neurológico cujo pensamento “cria” um mecanismo de defesa a partir de
frequentes e insistentes pensamentos negativos acerca da vida do paciente ou de
seus entes queridos. Por exemplo: “o mundo é predominantemente regido por vírus
e bactérias” . Se não limpar bem minha casa, meu corpo, minhas mãos, esses
vírus e bactérias poderão causar sérios danos a minha vida e de meus
familiares” a partir desse pensamento obsessivo, o indivíduo inicia um
comportamento para impedir que esse pensamento se torne realidade. Assim o
pensamento adquire um ciclo vicioso que só pode ser aliviado com o
comportamento que o paciente acredita que pode ser eliminado ou seja: obsessão=
pensamento – compulsão= comportamento.
Geralmente tal transtorno
pode ter início na infância e se agrava na idade adulta (entre 20-50
anos). Ainda nessa fase, há muitas possibilidades de se retroceder. A
psicologia em colaboração com a psiquiatria já provaram que esse quadro pode
ser revertido. Graças a neurociência e todas as técnicas utilizadas pela
psicologia, principalmente pela Teoria Cognitivo Comportamental (TCC) hoje se
sabe que o controle desse transtorno é perfeitamente possível.
Por outro lado, pouco se sabe quando
esse transtorno se manifesta nas faixas etárias entre 80-100 anos. Sim, as
pessoas atualmente estão sobrevivendo além dos 90 anos, muitas ultrapassam a
barreira do 100 anos. Quando esse evento
se manifesta em pessoas cuja saúde física ainda possibilita a mobilidade mínima
de Atividades de Vida Diária (AVD) , ainda é possível prevalecer por um longo
período já que não demonstram nenhuma dependência de cuidadores ou de
familiares. Há relatos de idosos que são completamente independentes e moram
sozinhos que são capazes de se cuidarem mesmo dentro de suas próprias neuroses
obsessivas e compulsivas, vindo a óbito por “causas naturais”.
O fato é que, quando esses idosos são
dependentes devido as patologias oriundas de diabetes, hipertensão e suas
comorbidades, esse quadro pode ser profundamente complexo uma vez que o TOC
será o pior dos problemas quando sua
“vitima” passa a ser terceirizada ou seja, não é mais o doente que terá que cumprir os
comportamentos oriundos das obsessões, já que o doente não tem mais mobilidade,
perde sua autonomia de executar a "grande necessidade" dos comportamentos
obsessivos. Assim, essa tarefa é transferida para o seu cuidador. Este pode ser
um parente, um amigo, ou mesmo um profissional contratado, quando a família possui
recursos financeiros para tal. Afim de exemplificar melhor tal situação,
analisarei um Caso concreto ao qual, solicito opiniões e sugestões para
minimizar o sofrimento do cuidador, não mais do paciente.
ESTUDO DE CASO: paciente do sexo feminino, 93 anos, mãe de
quatro filhos todos adultos. Duas mulheres e dois homens. Vem demonstrando ao
longo da terapia, uma predileção pelos filhos do sexo masculino e, mais
especificamente do primogênito. Este é portador de DML, Alcoolista e
emocionalmente autista. Não demonstra nenhuma afetividade e/ou respeito por
nenhum parente ou nenhuma autoridade extrafamiliar. É extremamente agressivo
com os familiares e com a própria mãe. O outro filho é distante emocionalmente, também alcoolista , casado , pouco presente e, pouco paciente na presença da mãe idosa. Tem sua
família e só comparece a residência da mãe quando pressionado. Não tem
paciência com as condições de uma anciã doente e dependente. Dessa forma a paciente conta apenas com
os cuidados das duas filhas, ambas acima dos 50 anos e uma delas também
diabética com todas as comorbidades inerentes a patologia. A paciente apresenta ulcera
diabética na perna direita com 3 recidivas, nessa última atingindo o tendão
calcâneo (tendão de Aquiles). A
gravidade da úlcera impediu a mobilidade tornando-se cadeirante e dependente
total nas AVDs.
Comportamentos relacionados ao TOC:
lavar as mãos todas as vezes que tiver que segurar um copo, um talher, um
remédio, etc. Quando essas estão devidamente lavadas, comporta-se como um
cirurgião na hora da cirurgia, mãos ao ar, aguardando a ajuda da “enfermeira”
para colocar as luvas sem tocar em nada que possa contamina-la. Esse
comportamento para um cirurgião é indicado e extremamente necessário. Para um
paciente que não tem mobilidade nem para ir ao banheiro, é preocupante. Controlar
a roupa de vestir. A lavagem e secagem da roupa: uma não pode estar perto da
outra (calcinha não pode secar no varal perto da toalha, a roupa deve passar por no mínimo três enxagues,
etc.). O tecido que cobre a cama e os
travesseiros (no caso são 17, entre lençóis e travesseiros). A textura do
tecido, se tem “ bolinhas” (formada pelo próprio tecido devido as lavagens) ,
se é mais grosso (encorpado) pesado ou
muito colorido, ou de determinada cor (vermelho, preto) , são descartados.
Quanto ao medicamento: não aceita que o cuidador toque no comprimido . Tem que vê-lo ser transferido da
cartela direto a sua mão. No banho o cuidador precisa segurar o chuveirinho
durante 15 min. Enquanto faz a higiene do rosto e das mães. Por não conseguir
mais realizar a própria higiene na
genitália, o cuidador precisa de mais 20min. Entre passar o sabão, enxaguar,
passar outro sabão, enxaguar novamente, etc.
Ao se deitar, os lençóis precisam
obedecer uma ordem, e a aureola do lençol deve estar com lado direito virado para a paciente. A pessoa
testa cada uma para senti-los. Quanto aos cuidados com os olhos e mãos, possui
vários guardanapos de tecidos brancos e macios (tem que ser brancos) e carrega-os
no bolso do vestido (todos tem que ter bolsos, incluindo as camisolas). Devido
ao próprio processo de envelhecimento, a pele do idoso é extremamente fina,
extremamente sensível, com o excesso de lavagem e esfregar, corre sérios riscos
de provocar lesões. Nesse caso específico o cuidador também está sob sérios
riscos de ser julgado e condenado por incompetência no trato com o idoso.
Diante do caso, pergunta-se:
1. O cuidador deve obedecer e executar
todos os comportamentos obsessivos do paciente? Porque?
2. A execução dos comportamentos
obsessivos no lugar do idoso pode contribuir para melhora do quadro de saúde geral
do paciente?
3. Considerando que a medicação
antidepressiva é administrada com mais outras 5 medicações ( diabetes, circulação,
analgésico potentes, ante inflamatório, antibióticos para infecção urinária e
para úlcera diabética, etc. etc.) o ante depressivo teria condições de funcionar?
4. Qual orientação poder-se-ia dar ao
cuidador (familiar ou profissional ) para que esse não entre em colapso
nervoso?
5. Quando o paciente deixa de se
alimentar para não ter que evacuar por extremo nojo das próprias fezes, o que
fazer?
Ao considerar tal situação deve-se lembrar que, devido a
idade avançada da paciente, as confusões
mentais frequentes, o histórico de vida e, principalmente a condição atual da
cuidadora (filha) que também sofre da mesma patologia (diabetes , neuropatia
diabética e outras comorbidades). É perfeitamente compreensível que os demais
filhos e netos optam por não presenciar tais situações de extremo estresse ao
ter que acompanhar no banho, no transporte para consultas e curativos, ou, passar
a noite no mesmo local do idoso. Dessa forma em momentos de plena lucidez
quando a paciente interroga sobre os filhos e netos, a verdade deve ser
mascarada? Até que ponto a verdade nesse momento é importante?
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