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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Contribuições de Pichón-Rivière à psicoterapia de grupo

07/02/2015 10:15



 
São muitas as contribuições de Pichón-Rivière para a psicoterapia de grupo. Suas contribuições tiveram início na década de 30, quando ainda era estudante de medicina, com suas primeiras investigações sobre o grupo familiar de crianças oligofrênicas, descobrindo que o retardo é causado, nesses casos, por carências afetivas sofridas na infância, no seio do grupo familiar. Na década de 40 torna-se chefe no Serviço de admissão do Hospício de Las Mercedes, onde observa de perto o paciente no momento da internação e percebe que a presença ou a ausência da família é um fator sempre significativo, observando também a segregação dos doentes mentais e como o hospital pode ser um agente que os tornava doentes. Por volta de 1947 investiga a relação entre a enfermidade, esquizofrenia (na maioria dos casos) e a situação familiar que o leva a desenvolver a noção de grupo interno (cenário no qual são recriados objetos, relações e vínculos) que se manifesta no vínculo transferencial e surge também a noção de Porta-voz (doente mental como depositário) e originando o Jogo das três letras “D”, onde o doente mental surge como o “Depositário” de todas as patologias e ansiedades do grupo familiar, as quais são os “Depositantes”, e o que depositam, ou o “Depositado”, são justamente essas ansiedades, essa patologia.
Todo processo de cura implica mudança e diante da mudança, surgem os medos básicos: o medo da perda (perder o que já se tem) que leva à ansiedade depressiva, e o medo do ataque (temor frente ao desconhecido) que leva à ansiedade paranoica ou persecutória. A técnica de grupos operativos centra-se na mobilização de estruturas estereotipadas e das dificuldades da aprendizagem e comunicação decorrentes por essas ansiedades e caracteriza-se por estar centrada, de forma explícita, em uma tarefa, sendo que à esta tarefa há outra implícita que aponta para a ruptura, significando um obstáculo frente a toda e qualquer situação de progresso ou mudança. O processo terapêutico consiste na diminuição dos medos básicos em termos de medo de ataque ao Eu e medo da perda do objeto buscando uma adaptação ativa à realidade, e assim o grupo operativo tem uma dimensão tanto de aprendizagem como terapêutica, pois implica a possibilidade do sujeito modificar-se ao mesmo tempo em que modifica o meio, sendo o sujeito um agente de mudança ao adquirir uma consciência de sua própria identidade e da dos demais. Essa técnica hierarquiza como tarefa grupal a construção de um ECRO (esquema conceptual, referencial e operativo) comum, condição necessária para estabelecer uma comunicação a partir da afinidade dos esquemas referenciais de emissor e receptor e a plasticidade dos papéis permite assumir papéis complementares e suplementares, modificando assim seus vínculos internos e externos.
Na perspectiva de grupos operativos dois fatores são fundamentais para o surgimento do grupo: o vínculo e a tarefa.
O vínculo é a representação subjetiva que cada um dos membros tem sobre si e sobre os outros, ela é construída na interação dos mesmos num tempo e espaço comum e é mútuo porque acontece quando internalizamos o outro e somos internalizados por ele.
A tarefa, essa seria a trajetória que o grupo percorre para alcançar seus objetivos. Por ocasião do firmamento do grupo, percebemos que três etapas se desenvolvem em torno deste fator:
A primeira etapa é a da pré-tarefa, na qual predominam os mecanismos de resistências à mudança, aqui o latente é a tentativa de iludir a elaboração do núcleo depressivo. Todos os mecanismos da pré-tarefa são dispositivos de segurança que tratam de por a salvo o sujeito dos sentimentos de ambivalência e culpa da situação depressiva.
A segunda etapa é a tarefa que é o momento em que as ansiedades e a emergência do grupo são trabalhadas para que a tarefa possa ser elaborada. Este processo de elaboração implica que o grupo está a caminho do seu projeto, ou seja, de seu propósito original.
A terceira etapa é o projeto que permite um planejamento para o futuro e é quando o grupo se propõe objetivos que vão além do 'aqui-agora' e também superar a situação de perda em razão da finalização do grupo e consequente separação.
No processo, o paciente que é porta-voz de si mesmo é também aquele que enuncia as fantasias inconscientes do grupo; ele é o emergente que denuncia a ansiedade predominante no grupo a qual está impedindo a tarefa.. Uma vez assinalados os aspectos individuais, a interpretação desvelará os aspectos grupais latentes, adquirindo uma dimensão horizontal e dá-se assim a articulação de dois níveis do grupo: a horizontalidade (que é compartida pelo grupo, pode ser consciente ou inconsciente) e a verticalidade (tem haver com a história, com o pessoal de cada integrante, que permite assumir certos papéis que foram adjudicados pelos demais). A horizontalidade do grupo e a verticalidade do sujeito se conjugam no papel.
O porta-voz, bode expiatório, líder e sabotador são papéis que vão sendo aclarados e a aprendizagem se desenvolve a partir da comunicação e implica em criatividade, em elaboração das ansiedades e em adaptação ativa à realidade.
Pichón estruturou um esquema de avaliação do processo grupal por meio dos vetores, conhecido como Cone Invertido. Esse esquema é composto por seis vetores: afiliação e pertença, cooperação, pertinência, comunicação, aprendizagem e tele. A afiliação e pertença, primeiro vetor, indica o grau de envolvimento do sujeito com a tarefa e com os demais integrantes do grupo, que tende a transpor-se de um nível mais básico (afiliação) para um de maior envolvimento e profundidade (pertença). O segundo vetor – cooperação – é a capacidade que cada integrante possui para colaborar com os outros membros, com o coordenador na execução da tarefa do grupo, em uma relação de complementaridade e de acordo com suas possibilidades no momento. O terceiro vetor – pertinência – consiste na proposta de centrar o grupo na tarefa proposta, rompendo estereótipos, ansiedades, vencendo a resistência à mudança e outros tantos movimentos recorrentes no “aqui e agora” do grupo. A comunicação, quarto vetor, possibilita observar os vínculos estabelecidos entre os integrantes, sendo assim, a base que fundamenta o grupo. Há diversas maneiras de se estabelecer a comunicação entre os membros: de um para todos (líder); de todos para um (bode expiatório); entre dois ou mais entre si excluindo os demais (subgrupos); entre todos mutuamente, sem se escutarem (caos); entre todos, mas se escutando e respeitando as intervenções de cada um (boa comunicação). Considera-se que o quinto vetor – aprendizagem – está sendo alcançado quando se somam as contribuições de cada integrante em direção à tarefa, possibilitando a mudança de atitude. É a adaptação do integrante de maneira ativa à realidade, que modifica o sujeito e o meio, fazendo com que o indivíduo e o grupo possam desenvolver suas capacidades de condutas alternativas diante de possíveis obstáculos, não se deixando cristalizar em comportamentos já conhecidos e estereotipados. A aprendizagem se desenvolve a partir da comunicação, em saltos de qualidade que incluem tese, antítese e síntese. Implica em criatividade, em elaboração das ansiedades e em adaptação ativa à realidade. A tele, sexto vetor, refere-se à disposição positiva ou negativa para trabalhar a tarefa grupal e estar em interação ou não com o grupo. Consiste no sentimento desperto de atração ou rejeição dos participantes entre si de maneira espontânea e de acordo com a dramática ou temas do grupo. É, enfim, o clima do grupo e os vetores guardam entre si uma inter-relação, sendo que a análise da comunicação pode ser indicativa de como estão os demais vetores.
A ideia do Cone Invertido elucida a dinâmica existente entre o explícito e o implícito e os conceitos básicos são:
1- Atitude Frente à Mudança (pode ser positiva ou negativa e aqui surgem os dois medos básicos);
2- Didática (é aprendizagem ativa e é interdisciplinar e quanto maior a heterogeneidade maior é a homogeneidade da tarefa e maior é a produtividade do grupo);
3- Vetores do Cone Invertido constituem uma escala básica de avaliação dos processos de interação grupal (afiliação e pertença, cooperação, pertinência, comunicação, aprendizagem e tele);
4- Verticalidade e Horizontalidade (unidade de operação – existente; é todo o presente no campo – explícito e implícito; interpretação - torna o implícito explícito - e emergente - a nova situação que emerge da anterior). É através do porta-voz que o emergente se manifesta. Nele se conjugam a verticalidade (história pessoal) com a horizontalidade (o que está acontecendo com o grupo);
5- Momentos do grupo: são os momentos de pré-tarefa (resistências a mudança, evita se trabalhar as ansiedades); tarefa (superação dos medos e ansiedades) e projeto (possibilidade de planejar para a ação futura). É a abertura, o desenvolvimento e o fechamento;
6- Universais: fenômenos que ocorrem em todo o grupo, aparecem as fantasias de enfermidade, tratamento e cura; e
7- Processos de maturação e desenvolvimento: teoria da doença única. Policausalidade considerando na equação etiológica o constitucional, o adquirido e o disposicional.
Para Pichón, se o sujeito diante da dor e da culpa regressa a uma posição anterior de seu desenvolvimento abre-se o caminho para a doença. Para ele o vínculo é uma estrutura complexa que inclui um sujeito e um objeto e a interação entre ambos e os processos de comunicação e aprendizagem configuram uma espiral dialética e então acontece a relação entre a estrutura social e a configuração do mundo interno do sujeito. O grupo interno é constituído pelos vínculos internalizados, começando pelo grupo familiar e para Pichón tanto a saúde quanto a doença estão relacionadas com a adaptação ativa ou passiva do sujeito à realidade, sendo o sujeito saudável aquele que apreende a realidade, modificando-a e modificando-se a si mesmo, ou seja, mantém uma relação dialética com o meio; e o sujeito doente aquele que mantém uma relação passiva e estereotipada.
Paulo Rogério da Motta


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